Os gestores públicos recém-empossados enfrentam uma árdua tarefa: equilibrar a atenção entre o cumprimento das metas de seus planos de governo e a gestão do ‘varejo’ administrativo cotidiano. A prevalência das demandas diárias tem o potencial de comprometer ações como obras relevantes que foram prometidas por prefeitos na campanha.
A rotina de um gestor começa antes mesmo do expediente formal, inundada por uma avalanche de mensagens no WhatsApp e telefonemas com problemas a resolver, solicitações urgentes e questões menores que exigem encaminhamentos rápidos. Além disso, há eventos a comparecer, demandas políticas a atender e prazos administrativos a cumprir. Essa enxurrada de pequenas urgências acaba relegando a um segundo plano reuniões importantes para planejamento, definição e avaliação de metas e alinhamento estratégico, frequentemente consideradas atividades que podem esperar.
O efeito dessa dinâmica é claro: a falta de tempo e de priorização para ações estruturantes leva ao tratamento apressado de qualquer coisa que necessite de planejamento – elaboração dos planos plurianuais e orçamentos, em geral feitos por contadores e não por prefeitos e secretários, como deveria ser.
Os gestores recorrem a justificativas como escassez de recursos financeiros ou humanos, falta de apoio político e até exigências dos órgãos de controle, para explicar a não realização de suas promessas. No entanto, o verdadeiro problema está na ausência de foco disciplinado e na incapacidade de gerenciar o equilíbrio entre o planejamento e o atendimento ao varejo governamental.
Esse fenômeno, que podemos denominar “sedentarismo administrativo”, reflete a inércia gerencial causada pela falta de atitude, compromisso e organização para dar vida às metas estabelecidas. Assim como na vida pessoal, onde manter uma rotina saudável exige esforço e disciplina, no setor público é necessário implementar práticas regulares de governança e gestão estratégica. Reuniões periódicas, monitoramento de metas e uma cultura institucional que valorize o cumprimento de objetivos de médio e longo prazos são ferramentas essenciais para enfrentar esse desafio.
A solução passa por um esforço conjunto de disciplina individual dos gestores e de estruturação de sistemas administrativos que favoreçam o foco no que realmente importa. Planejar, executar, monitorar o avanço e avaliar resultados são etapas interdependentes, e nenhuma delas pode ser negligenciada sem consequências graves para a gestão.
O maior desafio para os gestores não será apenas lidar com as dificuldades inerentes ao cargo, mas resistir à tentação de deixar que o cotidiano se sobreponha ao que é estratégico. Que o planejamento governamental não seja apenas uma formalidade, mas um compromisso real com a transformação e o legado para a sociedade.