O brasileiro é reconhecido mundialmente pelo talento em improvisar e encontrar soluções criativas para os problemas do dia a dia. No entanto, esse mesmo “jeitinho brasileiro” que tantas vezes ‘resolve’ algum desafio, também revela uma deficiência estrutural: a ausência de uma cultura de planejamento. No Brasil, o hábito de procrastinar deixando tudo para última hora ocorre em várias dimensões, desde tarefas cotidianas até decisões estratégicas em âmbito público e privado. Essa lacuna tem consequências, impactando o desenvolvimento do país.
Planejar significa antecipar, prever, programar e prevenir. É algo que, incorporado ao cotidiano, permite alocar melhor recursos, otimizar tempo e minimizar imprevistos. Mas para muitos brasileiros, o planejamento é visto como algo secundário. No trabalho, nos estudos ou nas finanças pessoais, a regra é resolver problemas quando eles se tornarem urgentes, em vez de preveni-los.
Essa mentalidade também está presente na gestão pública. Quantos planos e estratégias elaborados por especialistas permanecem engavetados ou no computador de órgãos governamentais? Muitos desses documentos, que custaram milhões e reuniram informações reveladoras, são ignorados. Pior, quando surgem crises, governantes recorrem a soluções improvisadas, sem considerar estudos previamente disponíveis. A consequência é a perpetuação de erros e a incapacidade de transformar problemas repetitivos em oportunidades de melhoria.
É verdade que muitos planos sofrem com uma apresentação inadequada. Textos excessivamente técnicos, repletos de gráficos e tabelas com pouca explicação, tornam-se inacessíveis ao público em geral e aos gestores que deveriam utilizá-los. Essa falta de clareza e organização das informações é um problema adicional. Contudo, o maior problema reside na cultura de desprezo pelo planejamento, que precisa ser transformada em todos os níveis da sociedade.
A falta de planejamento não impede apenas a prevenção de problemas; ela consome a criatividade e a energia dos brasileiros, que poderiam ser melhor empregadas em inovações e melhorias. Embora imprevistos e oportunidades inesperadas sejam inevitáveis, enfrentar o cotidiano sem qualquer plano significa desperdiçar tempo e recursos. E significa, sobretudo, não conseguir resolver problemas ou aproveitar oportunidades que surgem, simplesmente porque não tínhamos uma estratégia para aquilo. Ou porque estávamos ocupados improvisando em torno de algo que poderia já estar planejado.
O Brasil precisa promover uma mudança cultural. Incorporar o planejamento como um hábito pode transformar a forma como lidamos com desafios e aproveitamos oportunidades. Afinal, um país que planeja é um país que cresce – e que finalmente deixa de improvisar em situações que, quase sempre, poderiam ter sido previstas.
Vagner Araujo (@fvagner) é secretário do Planejamento de Natal