O Brasil enfrenta um cenário alarmante: mais de R$ 20 bilhões estão investidos em obras paralisadas. No Rio Grande do Norte, são 478 obras contratadas com recursos federais que não foram concluídas, sendo a maioria nas áreas de saúde e educação. Esses dados foram destacados pela conselheira federal do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), por Ana Adalgisa Dias, em entrevista à 94 FM.
Segundo Ana Adalgisa, a principal razão para tantas obras paralisadas não é a falta de recursos, mas a ausência de projetos executivos adequados. Ela exemplificou como muitos projetos públicos são mal concebidos desde o início.
“O prefeito manda um croqui ou um ofício dizendo que quer fazer uma quadra de esportes, mas cadê o projeto executivo? Cadê o orçamento com base nesse projeto? Muitas vezes, o valor licitado não condiz com a realidade e a obra fica pelo meio do caminho”, afirmou.
A situação ganha novos contornos com a implementação da nova Lei de Licitações, que exige que projetos públicos sejam elaborados em BIM (Building Information Modeling), uma plataforma avançada que integra os aspectos técnicos em modelos 3D. “O BIM já entrega tudo compatibilizado, inclusive a nível de 3D. É uma categoria de outro nível”, explicou Ana Adalgisa.
Segundo ela, um dos obstáculos é a falta de capacitação. “Nós, profissionais, estamos preparados? A engenharia pública está preparada para usar BIM? Nossos profissionais têm conhecimento sobre o BIM?”, questionou. Para enfrentar esse problema, o Confea participa do Fórum Brasil para o BIM e já realizou pesquisas para identificar o nível de maturidade dos engenheiros brasileiros no uso da ferramenta.
O Conselho planeja atuar em duas frentes: capacitação técnica e financiamento de softwares. “Vamos começar a atuar, junto com a nossa Caixa de Assistência Mútua, em capacitação dos profissionais e em linhas de financiamento para aquisição de softwares que trazem o BIM como plataforma básica para melhorar os projetos”, revelou.
CONSÓRCIOS. Outro ponto levantado pela conselheira federal foi a necessidade de formação de consórcios entre municípios para a elaboração de projetos de engenharia. “Muitos municípios pequenos não têm condições de formar uma equipe técnica multidisciplinar. Mas, se 10 municípios se unirem, poderão contar com essa estrutura para desenvolver projetos adequados, captar recursos e evitar obras inacabadas”, argumentou.
A proposta visa transformar a forma como os recursos públicos são utilizados, otimizando os esforços regionais. Ana Adalgisa também destacou ações do CONFEA para enfrentar outro gargalo: os baixos salários oferecidos em concursos públicos para engenheiros.
“Temos visto concursos que oferecem mil reais para engenheiros que deveriam receber dez mil. Isso desvaloriza a profissão e compromete a qualidade dos projetos”, afirmou. Por isso, o conselho abriu um painel para identificar esses casos e entrar com ações judiciais.
Além disso, a conselheira alertou para os impactos da nova Lei de Licitações, que permite que empresas estrangeiras executem obras no Brasil, trazendo seus próprios profissionais.
“A nova lei permite que empresas estrangeiras venham executar obras aqui. Isso significa que nossos engenheiros, que já realizaram trabalhos semelhantes, vão concorrer com profissionais de fora. Temos que proteger a engenharia brasileira, garantindo que esses profissionais registrem seus serviços como acervo técnico no Brasil”, explicou.
Em seu primeiro ano como conselheira federal, Ana Adalgisa enfatizou a importância de estar próxima dos profissionais do Rio Grande do Norte. “Nosso mandato está de portas abertas para receber críticas, sugestões, debater e conversar. Quero contribuir para a valorização da Engenharia, Agronomia e Geociências no Estado e no Brasil”, afirmou.