A Infraero, empresa estatal vinculada a um ministério controlado pelo Republicanos, investiu R$ 420 mil em patrocínios na cidade de Patos (PB), reduto eleitoral do novo presidente da Câmara, Hugo Motta, um dos principais nomes do partido.
Os contratos, voltados para as festividades de São João e para projetos de incentivo ao badminton e futsal em uma cidade com pouco mais de 100 mil habitantes, representam mais de um quarto de todos os patrocínios firmados pela estatal em todo o Brasil durante a gestão Lula (PT), apesar de a Infraero não administrar nenhum aeroporto na Paraíba.
![Cidade de Motta concentra patrocínios de estatal sob influência de seu partido Deputado federal Hugo Motta - Foto: Câmara dos Deputados](https://agorarn.com.br/files/uploads/2024/12/image-10-830x468.png)
A Infraero, que registrou um déficit de R$ 540 milhões em 2024, está vinculada ao Ministério de Portos e Aeroportos, liderado desde setembro de 2023 pelo deputado federal Silvio Costa Filho (Republicanos-PE).
Todos os contratos de patrocínio firmados para Patos ocorreram após a nomeação de Costa Filho, e nenhum deles passou por seleção pública.
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O novo presidente da Câmara preferiu não se pronunciar sobre os recursos. O Ministério de Portos e Aeroportos afirmou que a estatal tem autonomia para definir sua própria política de patrocínios.
A Infraero negou qualquer interferência política e afirmou que está em negociações para assumir a administração do aeroporto da cidade, mas não apresentou documentos que comprovem essas discussões.
O patrocínio de R$ 190 mil para o São João de Patos, na Paraíba, foi autorizado em 17 de junho de 2024, dois dias antes do início do evento, que contou com as principais atrações dos cantores Gusttavo Lima, Bell Marques e Leonardo.
A prestação de contas apresentada pelos organizadores informa que a Infraero teve direito a um camarote exclusivo, além de 80 pulseiras e ingressos. No entanto, a estatal não revelou quem recebeu os itens.
Nas redes sociais, Motta compartilhou diversos vídeos e fotos do evento, ao lado de políticos e celebridades, incluindo Gusttavo Lima.
O contrato tem como proponente Fábio de Almeida Coelho, mais conhecido como Fábio Cebolinha. Ele é promotor de eventos no Nordeste e também representa o cantor Luan Estilizado, que se apresentou em Brasília durante a festa de celebração da eleição do presidente da Câmara.
Além do camarote e dos ingressos, a Infraero teve sua marca incluída no material de divulgação e mencionada na locução do São João de Patos.
Os contratos de patrocínio para incentivar o badminton e o futsal foram firmados com a Associação Atlética Banco do Brasil da cidade, em dezembro de 2023, com base na Lei de Incentivo ao Esporte.
Para o badminton, a Infraero destinou R$ 120 mil, e para o futsal, R$ 111 mil.
Patos não é apenas o reduto eleitoral de Hugo Motta, mas também de diversos políticos de sua família. Seu pai, Nabor Wanderley Filho, é o atual prefeito, e sua irmã, Olívia Motta, é vista como a sucessora da ex-prefeita e atual deputada estadual Francisca Motta, avó de ambos. Todos são filiados ao Republicanos.
A cidade, a principal do sertão paraibano, não possui uma indústria ou agropecuária de grande relevância, mas se destaca como um polo regional de comércio e serviços.
O aeroporto local, Brigadeiro Firmino Ayres, é administrado pelo município. Já recebia voos comerciais e está em processo de ampliação desde o ano passado.
Motta tem utilizado suas redes sociais para defender as obras no aeroporto e destacar sua atuação, juntamente com a do ministro Costa Filho, na busca por recursos para o projeto.
Infraero diz querer administrar aeroporto; Motta não se pronuncia
Hugo Motta não respondeu às questões enviadas pela Folha sobre os patrocínios.
O Ministério comandado por Silvio Costa Filho mencionou investimentos na expansão da infraestrutura aeroportuária regional em 50 aeródromos na Amazônia Legal e no Nordeste, mas nenhum deles na Paraíba.
Em relação aos patrocínios em Patos, a pasta explicou que a decisão segue a política definida pela Infraero.
A Infraero negou qualquer interferência política, mas não esclareceu os motivos pelos quais Patos recebeu três dos onze patrocínios da estatal. A única justificativa apresentada foi que, na época, havia “uma negociação/prospecção em curso para que a Infraero assumisse a administração do aeroporto da cidade”, tratativa que ainda estaria em andamento.
A reportagem solicitou documentos relacionados a essas negociações, mas a estatal negou o acesso, alegando sigilo concorrencial.
A empresa afirmou que o interesse em administrar o aeroporto se deve à sua capacitação para gerir terminais importantes como “Patos e outros que possam ser considerados essenciais para o desenvolvimento da infraestrutura aeroportuária nacional e regional”.