O secretário de Planejamento e Finanças de Parnamirim, Kelps Lima, afirmou que o projeto Parnamirim Aeroporto Digital será um “divisor de águas” para o futuro econômico do município. A iniciativa, que prevê transformar o antigo Aeroporto Augusto Severo em um parque tecnológico e hub de inovação, tem o objetivo de inserir a cidade em um novo patamar de desenvolvimento, com foco em tecnologia e geração de empregos qualificados.
“Esse projeto é um sonho. Agora, esse projeto não pode ser meu, não pode ser da prefeita, não pode ser da gestão. Tem que ser um projeto da cidade”, destacou Kelps, em entrevista à TV Agora RN nesta sexta-feira 31, citando que o plano é discutido a partir de uma articulação ampla, que envolve instituições públicas, privadas e acadêmicas. Ele citou, além da Prefeitura de Parnamirim, a Aeronáutica, o Sebrae, a Fiern, o IFRN e a UFRN.

Para estruturar o modelo do parque tecnológico, a Prefeitura de Parnamirim firmou uma parceria com o Porto Digital, do Recife (PE), considerado o maior parque de inovação do Brasil. “Eles vão prestar consultoria para fazer a construção do parque”, anunciou o secretário. O projeto pernambucano, segundo ele, foi escolhido por sua experiência em criar ecossistemas semelhantes em cidades como Goiânia (GO), Caruaru (PE) e até em iniciativas fora do País. “A gente pegou o que há de melhor no Brasil”, disse.
A prefeita Nilda Cruz (Solidariedade), de acordo com Kelps, autorizou a adoção de todos os incentivos fiscais possíveis dentro dos limites da Lei de Responsabilidade Fiscal. “A determinação da prefeita é: Qual é o máximo que a lei autoriza? Pode ir no máximo. Eu quero empresa e emprego”, relatou o secretário. O foco, segundo ele, é reter os jovens talentos formados no IFRN e nas universidades da região, evitando a evasão de mão de obra qualificada para outras cidades.
Investimento e impacto econômico
Kelps estima que o investimento inicial para implantação do parque tecnológico fique entre R$ 30 milhões e R$ 50 milhões. Parte desses recursos deverá vir de fundos não reembolsáveis, e as negociações já estão em andamento. “Se Deus quiser, em dezembro, a gente consegue anunciar já um pedaço desse dinheiro”, acrescentou.
A meta é transformar a antiga estrutura do aeroporto em um espaço voltado à tecnologia, inovação e empreendedorismo. “O prédio é lindo. A arquitetura daquele aeroporto é linda. O pôr do sol de quem fica ali é lindo”, disse. Além de empresas de inovação, o projeto prevê a instalação de um auditório, áreas de coworking e até um restaurante com vista para a pista. “Vamos fazer parceria com a Aeronáutica para esse parque tecnológico ser de tecnologia aérea e aeroespacial. Parnamirim é o único município do Brasil que tem uma base aérea militar e uma base de lançamento de foguetes”, ressaltou.
Kelps disse ainda que o projeto muda a visão de futuro da cidade. “Estamos jogando Parnamirim lá para cima, no que é mais moderno: tecnologia, parcerias internacionais. Apareceu agora um fundo americano do Texas que já nos procurou para investir lá. Então, a gente está botando Parnamirim em outro nível de discussão”, completou.
Ruptura administrativa e reorganização fiscal
Além do projeto tecnológico, o secretário fez um balanço da gestão da prefeita Nilda, que completou dez meses à frente da administração municipal. Segundo ele, a situação financeira herdada foi “uma tragédia”. “Num orçamento de R$ 1 bilhão por ano, R$ 387 milhões era de dívida. E algumas de curtíssimo prazo”, relatou. Ele lembrou que, no início da gestão, chegou a ser emitido um aviso de corte de energia pela Cosern, e que parte dos fornecedores estava há meses sem receber.
A troca de comando, destacou Kelps, também representou uma ruptura política. “Houve uma ruptura. Isso traz duas consequências. Você imagina o servidor público da cidade, que está habituado com a lógica administrativa, e há uma quebra de paradigma”, observou. Segundo ele, o estilo da prefeita é marcado por proximidade com a população. “Nilda é muito mais popular, muito mais afeita aos problemas da população. Ela vai nas unidades de saúde, vai todos os dias para a rua”, contou.
Kelps também comentou o ritmo de trabalho da gestora. “Se eu abrir meu celular aqui para você… Está aqui: 5h49 da manhã, ela está tirando o juízo de todo mundo na prefeitura. Ela deve ter chegado em casa ontem, 11h da noite. E ela é essa prefeita”, disse.
Contratos emergenciais e críticas da oposição
Questionado sobre as críticas da oposição em relação às contratações emergenciais, sobretudo na área da saúde, o secretário afirmou que a prática é amparada pela lei e comum em períodos de transição. “Isso é normal. Isso é respaldado em lei. Não são tantos contratos emergenciais. São menos do que quando o ex-prefeito entrou sucedendo alguém que era do seu mesmo grupo”, justificou, citando os ex-gestores Rosano Taveira e Maurício Marques.
Kelps explicou que a maioria dos contratos emergenciais se concentrou na saúde, devido à ausência de cobertura contratual deixada pela gestão anterior. “Na saúde, você não tem muita margem para negociar. Porque quem está com dor não pode esperar 180 dias para uma licitação”, afirmou. Ele destacou ainda que, passados 10 meses de gestão, “agora todos os processos licitatórios já estão abertos”. “Em várias reuniões do secretariado, a prefeita já disse: ‘eu não quero contratos emergenciais quando a gente puder construir o trâmite regular’. Então só haverá contrato emergencial se tiver uma situação emergencial”, enfatizou.
Saída do cargo e cenário político para 2026
Durante a entrevista, o secretário confirmou que deixará o cargo no final deste ano. Como ele será candidato nas eleições de 2026, precisaria se desincompatibilizar até o início de abril, mas ele vai antecipar a saída.
Kelps revelou que está articulando, junto a outros nomes, a formação de um grupo político para montar uma nominata à Câmara Federal. Ele citou nomes como o ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo Alves, o sindicalista da pesca Abraão Lincoln e o ex-deputado federal Rafael Motta entre os que participam das conversas. “Vamos sentar quem não tem mandato e que tem pretensão de ser deputado federal. Vamos sentar todo mundo num bolo só”, explicou.
Até fevereiro, segundo ele, o grupo vai decidir em qual partido vai desembarcar. “O mais importante agora é montar o grupo”, disse. Kelps também afirmou que todos os partidos têm demonstrado interesse em receber a chapa.
Sobre sua própria legenda, o Solidariedade, o secretário disse preferir continuar nela, mas não descartou mudanças. “Eu prefiro ficar em solidariedade. Sou fundador no Rio Grande do Norte, sou da executiva nacional”, lembrou.
Ao avaliar o cenário eleitoral, Kelps criticou o baixo nível do debate político no Estado. “O debate político do ano que vem, infelizmente, tende a ser medíocre, como foi em quase todas as campanhas do Rio Grande do Norte”, declarou. Para ele, os temas centrais deveriam ser finanças públicas e educação. “Porque o resto é consequência. Como é que faz saúde sem dinheiro? Como é que você tem uma economia boa se você não tem um nível educacional forte?”, questionou.
Em meio a essa disputa, ele manifestou preferência pelo nome do prefeito de Mossoró, Allyson Bezerra (União), na disputa de governador.