O jornalista e escritor potiguar Tony Lucas foi selecionado como um dos 150 semifinalistas do concurso nacional “Livros do Futuro”, promovido pelo TikTok em parceria com as editoras Record (Galera), Globo (ALT) e Harper Collins. A competição recebeu inscrições de todo o país e classificou 50 obras em cada uma das três categorias: Romance Jovem Adulto, Suspense e Fantasia.
Tony concorre na categoria Suspense com o romance “Sina”, ambientado no Rio Grande do Norte. A obra mistura thriller psicológico e elementos sobrenaturais, acompanhando a história de Samuel, um homem gay que retorna ao sítio da infância dez anos após o pai cometer uma chacina e atentar contra a própria vida. O reencontro é marcado por uma sequência de assassinatos, sonhos perturbadores e fenômenos estranhos que o fazem questionar a própria sanidade.

Entre suspeitas da comunidade e vozes do passado, o personagem encontra no tarot e na mediunidade familiar as chaves para compreender o destino. Segundo o autor, “Representar o Rio Grande do Norte nesse projeto é uma alegria imensa. ‘Sina’ nasce de um olhar nordestino sobre o próprio Nordeste, sem caricaturas, com emoção e complexidade. É uma forma de mostrar que nossas histórias também são universais”.

A segunda etapa do concurso consiste na produção e publicação de vídeos no TikTok, que serão submetidos à votação popular no site oficial da iniciativa (www.livrosdofuturo.com). A votação ocorre entre 1º e 11 de outubro e definirá os 20 finalistas de cada categoria. Na fase seguinte, os finalistas deverão enviar os manuscritos completos, que serão avaliados por um júri especializado. Os vencedores — um em cada categoria — serão anunciados em 12 de janeiro de 2026 e terão suas obras publicadas pelas editoras parceiras, além de receberem R$ 10 mil e apoio financeiro para marketing e divulgação.
Tony é mestrando em Estudos da Mídia pela UFRN, onde desenvolve pesquisa sobre a representação do Nordeste no BookTok, comunidade literária do TikTok que inspirou a criação do concurso. Para ele, a presença no projeto une sua trajetória acadêmica e literária: “Eu pesquiso o TikTok, né? Pro mestrado. Tenho uma pesquisa ativa sobre o BookTok, então tô sempre por dentro. Quando chegou a notificação do concurso, fiquei naquela dúvida se tentava, porque estava com muita demanda, mas decidi mandar a sinopse no último dia. Fiquei surpreso quando passei.”
Segundo o autor, o processo criativo de Sina surgiu de inquietações sobre a forma como o Nordeste é retratado na mídia. “Eu queria escrever uma história tipicamente nordestina, que as pessoas lessem e sentissem que esse é o Nordeste. Só que um Nordeste diferente, porque eu trago elementos do terror e do suspense. Eu nunca vi uma história de terror que se passasse no Nordeste”, afirmou.
Tony explica que buscou unir representatividade regional e LGBTQIA+ em um gênero ainda pouco explorado. “O meu protagonista é LGBT. A ideia de escrever ‘Sina’ partiu muito dessa falta de representatividade — seja do Nordeste, seja de nordestinos LGBT — principalmente no gênero de suspense, horror e sobrenatural. E o fato dele ser tarólogo também é algo que eu nunca vi.”
O autor cita referências como os filmes A Herança, Pânico, Hereditário e Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado, além do livro Objetos Cortantes, de Gillian Flynn. “O ‘Sina’ é muito sobre encarar o passado e temer o futuro. As pessoas na vida do Samuel acreditam que ele vai seguir os passos do pai assassino. O romance brinca com a ideia do destino: será que a gente tem livre-arbítrio?”, explica.
Tony conta que sua relação com a literatura começou na infância, com o incentivo da mãe. “Eu me lembro que quando eu era criança, minha mãe lia para mim algumas histórias. Depois comecei a ler gibis da Turma da Mônica. Isso foi alimentando a vontade de ler. Desde a pré-adolescência, eu já lia bastante coisa.”
Ele relata que iniciou sua trajetória na internet em 2011, com um blog que, a partir de 2013, passou a ser dedicado à literatura. “Eu resenhava livros, tinha parceria com autores e editoras, recebia livros para resenhar. E conforme eu escrevia sobre as obras das outras pessoas, vinha batendo aquela vontade de também escrever”, contou.
Após experiências com contos e poesia, Tony ingressou em Jornalismo na UFRN, em 2018, e voltou sua escrita para o campo acadêmico. “Participei da antologia ‘Jornalismo Potiguar’, assinada pela professora Socorro Veloso. A partir daí, comecei a focar mais em textos relacionados à faculdade, mas a literatura nunca saiu de mim.”
Ele ressalta o papel de professores e colegas. “A professora Socorro Veloso sempre esteve do meu lado. Durante a pandemia, fui bolsista de iniciação científica com ela e foi a partir disso que tomei gosto pela pesquisa. Isso me levou ao mestrado. Atualmente, estamos organizando juntos o novo livro da coleção ‘Jornalismo Potiguar’. Meu orientador, Daniel Meirinho, também tem sido muito importante nesse processo.”
O escritor afirma que o incentivo da comunidade acadêmica foi decisivo. “Muitas vezes eu não acredito em mim mesmo. E essas pessoas, principalmente Socorro, acreditam, veem o potencial e me apoiam. É isso que me faz continuar”, disse.