Quase todas as capitais brasileiras estão quebrando a cabeça para solucionar um grave e incômodo problema: o esvaziamento e a deterioração dos seus Centros. Compreender esse fenômeno e encontrar suas raízes mais profundas tem consumido o tempo e os esforços de muitos urbanistas, gestores e estudiosos das cidades. Mas além de estudos e elaboração de diagnósticos, já tem gente colocando-os em prática. E colhendo bons resultados. Vamos trazer dois exemplos para servirem de inspiração: Recife e Rio de Janeiro.
A cidade do Rio de Janeiro lançou, em 2021, o programa Reviver Centro. A ideia era criar uma série de incentivos e instrumentos para atrair para o Centro e a Lapa investimentos em novas moradias, empreendimentos de uso misto (residências e salas comerciais) e outras atividades que fizessem com que as pessoas voltassem a frequentar a região.
Pessoas. No fim, tudo se resume – e é assim que deve ser – a atender às pessoas, por isso é tão importante, nesse tipo de proposta, compreender as demandas reais da cidade e do mercado dos desejos humanos, e não elaborá-los com base em achismos, preferências pessoais, utopias ou saudosismos. É na cidade real – e atual – que está a força que devolverá vida aos centros degradados e abandonados.
O Reviver Centro considerou, cheio de sabedoria e humildade, que o que estava sendo estabelecido na sua primeira versão, teria que ser avaliado de muito perto quando fosse aplicado. Dois anos depois, entendeu-se que já seria necessário fazer ajustes no plano para que ele fosse, de fato, efetivo naquilo a que se propôs. Dois anos! Isso mesmo depois de ter, em pouco tempo de vigência, viabilizado o lançamento de 1.104 unidades residenciais, dando sinais de que, com monitoração constante e ajustes rápidos (nos incentivos e na burocracia), o Reviver Centro pode ser ainda mais bem sucedido. Se é pra incentivar, que seja um incentivo verdadeiro, e não apenas migalhas com aparência de favores. O caminho, por lá, está traçado. O tempo se encarregará de mostrar mais resultados.
Recife é um conhecido caso de sucesso de revitalização do seu Centro Histórico. O Recife Antigo, hoje, é um bairro de grande vitalidade, frequentado por turistas e residentes, além de um importante polo tecnológico que atrai talentos e exporta para o mundo inteiro a inteligência do povo pernambucano. Por lá, foi necessário dar um impulso inicial para viabilizar uma atividade econômica que não era, aparentemente, vocacionada para a área. Mas houve ousadia, incentivos adequados e uma correta leitura sobre a demanda que poderia se interessar pelo bairro. Deu certo.
Mas mesmo hoje, com o retumbante sucesso econômico e urbanístico do Recife Antigo, os gestores estão dando um passo além, dentro dessa perspectiva de avaliar constantemente para melhorar e não deixar estagnar. E é com esse espírito que estão sendo traçadas estratégias para atrair residências e moradores, o que dará ainda mais vida ao que estava quase morto há alguns anos.
Estes são apenas dois bons exemplos do que pode ser feito para revitalizar nosso Centro. Evidente que apenas copiar não é o caminho, mas dá para perceber que existe um princípio orientador comum, que precisamos traduzir num conjunto de ações reais, colocá-las em prática, monitorar, ajustar rapidamente e colher os frutos.