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Coluna

Anistia é chancelar a escalada do terrorismo

Leia o artigo de William Robson desta quinta-feira 21
William Robson
21/11/2024 | 05:32

Uma pesquisa publicada pelo site Jota atestou que seis em cada 10 brasileiros defendem que os acusados pelos atos de 8 de janeiro permaneçam presos até a condenação e o cumprimento da pena. Por outro lado, 32% dos entrevistados acreditam que os envolvidos devem ser soltos. Um detalhe importante precisa ser considerado neste levantamento: os recentes atos de terrorismo não entraram na tabulação.

O bolsonarismo evoluiu de tal modo que a tentativa de golpe de Estado em janeiro alcançou o terrorismo. Francisco Wanderley Luiz saiu de Santa Catarina para se explodir na noite de quarta-feira na praça dos Três Poderes, em frente ao STF. O ato do ex-candidato a vereador do PL explodiu também qualquer resquício de anistia (se é que existia algum) daquelas pessoas envolvidas em outros atos terroristas, no caso, os ataques às instituições em 8 de janeiro. Esta possibilidade chegou a zero e, certamente, a pesquisa do Jota traria agora números bem mais incisivos.

Mesmo assim, o presidente Bolsonaro utilizou o momento desta semana para tentar se safar e clamar pela anistia. “As instituições têm um papel fundamental na construção desse diálogo e desse ambiente de união. Por isso, apelo a todas as correntes políticas e aos líderes das instituições nacionais para que, neste momento de tragédia, deem os passos necessários para avançar na pacificação nacional”, afirmou o maior responsável pelo transe coletivo da extrema-direita.

Wanderley Luiz foi tratado como louco nas redes sociais. Os mais próximos dele disseram que não. Seus atos não parecem ter partido de alguém que tomou decisão repentina por pura insanidade. A Polícia Federal já sabe que o terrorista planejou o ataque há tempos, estando em Brasília em outras ocasiões, inclusive no início de 2023, preparando artefatos, alugando residência em Ceilândia, escolhendo o dia 13 (em alusão ao PT) e escrevendo mensagens ameaçadoras nas redes sociais. Ou seja, sabia do que estava fazendo.

O problema dos bolsonaristas mais extremos é a realidade paralela. Assemelha-se a uma seita, onde se acredita nos maiores absurdos e a fala do líder tem força de lei. Não é à toa que também circula vídeos em que Bolsonaro faz uma espécie de lavagem cerebral ao repetir de forma incessante à multidão de seguidores: “Dou a vida pela minha pátria”.

O ministro Gilmar Mendes, inclusive, estabelece conexão dos atos terroristas ao Bolsonaro. “A ideologia rasteira que levou à tentativa de golpe não surgiu subitamente. O discurso de ódio e a desinformação foram estimulados no governo anterior”, disse. Por esta razão, já há motivos das autoridades acreditarem que o terrorista que se explodiu esta semana não é tão somente um lobo solitário. Há grupos extremistas ativos projetando outras ações. É preciso ficar atento.

Não será com anistia que se encerrará a escalada terrorista no Brasil. Wanderley Luiz não morreu como mártir, porém, serviu para demonstrar que o bolsonarismo está mais beligerante. O bolsonarismo deixou o campo da política há tempos para adentrar em uma espécie de célula terrorista que se espraia pelo país.

São os negacionistas da democracia e das instituições, como afirmou o ministro Alexandre de Moraes, o maior rival destes extremistas. Inclusive, o propósito do homem-bomba era assassinar o ministro. Neste momento delicado, anistia é chancelar o terror. E a impunidade é dar permissão para agressividade ainda maior.

William Robson é jornalista e professor. Doutor em Jornalismo (UFSC) e mestre em Estudos da Mídia (UFRN)

Manifestantes em Brasília pedindo a anistia aos condenados pelo 8 de janeiro / Foto: Lula Marques/ Agência Brasil
Manifestantes em Brasília pedindo a anistia aos condenados pelo 8 de janeiro / Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

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