Taylor Swift nunca se repete – e é justamente isso que a torna inesgotável. Depois do folk intimista de folklore e da poesia crua de The Tortured Poets Department, ela reaparece agora com The Life of a Showgirl, lançado nesta sexta-feira 3, seu retorno mais direto ao pop desde os anos 2010. Mas o brilho aqui não é apenas dançante: é também feito de reflexões, da consciência de quem conhece o peso e o custo de viver sob os holofotes.
Musicalmente, The Life of a Showgirl é quase o oposto de Tortured Poets: em vez de duas horas de densidade poética, são 12 faixas enxutas, produzidas com Max Martin e Shellback – dupla por trás de seus maiores hits, como Blank Space e Shake It Off. O resultado é um pop cheio de refrões afiados e da energia de uma Swift expansiva, mas agora com convicção madura.

Talvez seja a primeira vez que uma faixa-título traduz com tanta precisão a alma de um disco. The Life of a Showgirl, com participação de Sabrina Carpenter, é uma confissão de dores escondidas sob a maquiagem, de um corpo que precisa estar inteiro toda noite, de uma alma que sobrevive enquanto é devorada pelos palcos.
“You don’t know the life of a showgirl, babe”, ela repete, como um mantra. Por trás do sorriso, do figurino impecável, dos aplausos, existe o preço do constante julgamento e da cobrança infinita. Escutar essa música é quase como ouvir Taylor dizendo que chegou até aqui pagando um custo alto demais – e, mesmo assim, não se arrepende.
Sabrina, aliás, é hoje uma estrela em ascensão, com hit atrás de hit. Swift veio antes e, de certa forma, ajudou a abrir caminhos: desafiou a indústria quando ser mulher e namorar homens famosos era motivo de crucificação pública, sobreviveu a ondas de ódio que poderiam ter destruído qualquer carreira e, neste ano, conquistou de volta o direito ao próprio catálogo musical.
Se hoje artistas mais jovens podem brilhar com tamanha liberdade, é porque existiram outras “showgirls” que enfrentaram tentativas de apagamento. O feat, nesse sentido, funciona como diálogo entre gerações: a experiência de uma e a vitalidade da outra se encontram não em hierarquia, mas em cumplicidade.
Acredito que senti esse álbum ainda mais fundo por carregar minha própria experiência como fã. Estive na abertura da Eras Tour no Rio de Janeiro – um dos momentos mais aguardados da minha vida. Mas o que era para ser pura celebração se tornou agridoce: lembro do calor sufocante, de ter desmaiado durante o show e da dor imensa de saber que uma fã morreu naquela noite.
Aquilo mudou a minha própria relação com o espetáculo e foi impossível não lembrar dessa cicatriz ao ouvir o disco. Quando Taylor canta sobre as contradições de ser uma showgirl, percebo que, no fundo, também nós, fãs, fazemos parte dessa engrenagem de amor e de dor. O álbum é sobre ela, mas também é sobre o que vivemos em torno dela.
É claro que o amor romântico também está presente. Swift está leve, apaixonada, noiva de Travis Kelce – e deixa isso transbordar nas músicas. Em Eldest Daughter, por exemplo, escreve que não vai deixar o amado e que vai manter a promessa (vow, em referência ao matrimônio), além de admitir que, quando dizia não acreditar em casamento, “era mentira”. Estamos diante daquele mesmo romantismo incurável que sempre acompanhou sua obra desde o primeiro álbum adolescente, mas agora vestido de certeza adulta.
Por trás do sorriso, que tantas vezes foi forçado, parece finalmente viver a vida que sempre quis. Ela encontrou um palco que é dela por direito. Sequins are forever, e Taylor também.