11/06/2021 | 13:58
Natalia Pasternak declarou à Comissão de Inquérito Parlamentar (CPI) da Covid-19 , nesta sexta-feira 11 que o investimento em fármacos sem eficácia comprovada é um “desperdício de recursos públicos”.
A fala da depoente questiona o uso do coquetel de medicamentos promovido pelo governo Bolsonaro, que inclui a hidroxicloroquina, a azitromicina, a ivermectina e a nitazoxanida. Segundo a microbiologista, o kit Covid é um gasto desnecessário, pois a ciência comprovou a ineficácia dos remédios no enfrentamento da pandemia.
Pazuello ofereceu para a OMS ‘conhecimento’ sobre tratamento precoce, mostram telegramas do Itamaraty
Documentos revelam que enquanto o Brasil discutia a adesão ao consórcio global de vacinas Covax Facility, em setembro do ano passado, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ofereceu ao diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, “o compartilhamento de protocolo desenvolvido no Brasil para tratamento precoce da doença”. Essa proposta foi registrada em um telegrama do Itamaraty enviado em caráter sigiloso à CPI da Covid e obtido pelo GLOBO.
“(Pazuello) ofereceu à OMS o compartilhamento de protocolo desenvolvido no Brasil para tratamento precoce da doença, fruto de conhecimento acumulado nas diferentes regiões do país. Ponderou que a conversação com a OMS será mais eficaz se os dois lados mantiverem perfil discreto”, diz trecho do documento do Itamaraty.
Em setembro do ano passado, diversos estudos científicos já haviam descartado o uso de cloroquina e hidroxicloroquina no combate à Covid-19. Ainda assim, o governo brasileiro insistiu nesses remédios como parte de um “kit Covid”, chamado também de “tratamento precoce”.
Em resposta, Tedros “sublinhou que o interesse da OMS seria apoiar o Brasil em salvar vidas”, agradeceu a intenção do Brasil de participar do Covax Facility e, diplomaticamente, “manifestou interesse no protocolo de tratamento mencionado por Pazuello”, segundo o telegrama do Itamaraty. Pouco depois, em meados de outubro, a OMS reiterou , através de outro estudo, que o tratamento precoce com medicamentos como cloroquina, remdesivir e interferon não era recomendado para enfrentar a Covid.
Desde o início da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro defendeu o “tratamento precoce”, em referência a medicamentos ineficazes para Covid-19, diversas vezes. Ele também criticou a OMS reiteradamente em seus discursos, rejeitando especialmente a recomendação de isolamento social contra o novo coronavírus. Em junho do ano passado, chegou a dizer que “o que menos tem de ciência” é a OMS e que a organização “não acerta nada”.