Com o fim da metade do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os debates sobre uma reforma ministerial começaram a dominar as conversas no Palácio do Planalto e gerar movimentações no Congresso. Pessoas próximas a Lula confirmam que está em discussão uma dança das cadeiras no governo para acomodar interesses de partidos aliados que podem garantir apoio tanto em votações na Câmara e no Senado quanto nas eleições em 2026 e também para melhorar a gestão em áreas vistas como problemáticas.
A expectativa é que Lula possa anunciar as trocas em seu time até o início do ano que vem, para que já comece a segunda metade do mandato com a nova equipe e a renovação da aliança com partidos de centro. Uma reunião ministerial de balanço e alinhamento de planos deve acontecer em janeiro.
As substituições no governo já foram tratadas pelo presidente com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e outros aliados mais próximos. Lula, porém, não costuma abrir totalmente o jogo sobre os seus planos para um único auxiliar. Para despistar e evitar vazamentos, o petista tem o hábito de revelar suas decisões a conta-gotas a diferentes interlocutores. Por isso, no Planalto ninguém se arrisca a fazer o desenho da nova configuração da Esplanada.
Entre os ministérios comandados por membros do PT, o que concentra as principais queixas é a Secretaria de Comunicação Social, de Paulo Pimenta. Na sexta-feira, Lula fez críticas públicas à forma como o governo divulga suas ações. Para aliados do presidente, as declarações deixaram clara a intenção de demitir o auxiliar.
— Há um erro no governo na questão da comunicação, e eu sou obrigado a fazer as correções necessárias para que a gente não reclame de que não está se comunicando bem — afirmou Lula durante a sua participação no seminário realizado pelo PT.
Em resolução aprovada ontem, o partido do presidente defendeu usar mais pronunciamentos em rádios e TV para fazer propaganda de programas e bons números na economia obtidos pela gestão. Um dos exemplos citados pela legenda é a fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante o anúncio do pacote de corte de gastos. O vídeo do chefe da equipe econômica foi gravado com a ajuda do marqueteiro Sidônio Palmeira, responsável pela campanha que elegeu Lula em 2022.
Na transição de governo, em dezembro de 2022, Lula chegou a convidar Palmeira para conduzir a comunicação do Planalto, mas ele recusou. Apesar de não ter interesse em participar do governo, o marqueteiro tem desempenhado um papel de conselheiro informal e circulado com mais frequência por Brasília. Para alguns ministros, ele seria o melhor nome para substituir Pimenta, que está desgastado no cargo. Procurado, o ministro não comentou.
Visto como vitrine do governo Lula, o Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família, tem sido criticado por aliados do presidente por não conseguir propagar as ações positivas do governo. O chefe da pasta, Wellington Dias, tem a confiança do mandatário, mas vem sendo bombardeado nos bastidores. O ministro não respondeu aos contatos.
Para conduzir os principais programas sociais do governo, o nome da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, já foi citado por aliados do presidente. Mas com a definição de que ela só deixará o comando do partido em julho do ano que vem, sua entrada na gestão se tornou inviável. Como pretende disputar a eleição em 2026, ela teria que deixar o ministério em abril, menos de nove meses após assumir. Por se tratar de uma área estratégica, a legenda não abre mão do controle desse feudo na Esplanada.
Além de tentar turbinar áreas estratégicas da gestão petista, a reforma ministerial em discussão tem o objetivo de atrelar partidos da base do governo ao projeto de reeleição de Lula. A ideia é garantir os apoios de legendas do centro já no primeiro turno de 2026. Dentre as siglas cobiçadas, está o PSD, que elegeu o maior número de prefeitos nas eleições municipais deste ano e vem ganhando musculatura no Congresso.
A avaliação de aliados de Lula é que, antes de pensar em 2026, o governo deveria tratar de conter o descontentamento da bancada do PSD da Câmara, que tem pedido um ministério maior. Esse grupo exerce influência na discreta pasta da Pesca, comandada pelo deputado licenciado André de Paula (PE), enquanto senadores do partido presidido por Gilberto Kassab dão as cartas no cobiçado ministério de Minas e Energia, chefiado por Alexandre Silveira.
A prova da insatisfação de deputados do PSD da Câmara foi dada nas votações das urgências de dois dos projetos do pacote de ajustes de gastos, que receberam apenas 15 e 17 votos favoráveis entre os 44 deputados da sigla.
Uma ala do PSD considera natural a adesão ao projeto de reeleição de Lula, já que o partido pode encabeçar os palanques dos petistas no Rio e em Minas. Líderes da legenda afirmam, contudo, que o grupo descontente com o governo, formado principalmente por parlamentares do Sul e do Sudeste, pode ganhar argumentos para se alinhar à oposição em 2026 se não receber espaço na Esplanada.
Auxiliares de Lula entendem que uma forma de amarrar o PSD seria acomodar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), com um cargo após ele deixar o comando do Congresso, em fevereiro. Ministros de partidos de centro defendem o nome do parlamentar para a Saúde, de olho em uma candidatura ao governo de Minas em 2026. Pacheco, contudo, já disse a pessoas próximas que como advogado sonha com o Ministério da Justiça e também tem cogitado deixar a vida pública ao fim de seu mandato como senador, em 2027.
Neutralidade
A reforma ministerial também deve atender aos interesses de PP e União Brasil, que atualmente estão na base do governo, mas inclinados a não embarcar no projeto de reeleição de Lula. Aliados do presidente dizem que manter o espaço dessas siglas e ampliar a oferta de cargos podem ajudar a garantir ao menos a neutralidade dessas legendas em 2026. Isso seria importante, porque não daria tempo de televisão e fundo eleitoral para um adversário do petista nas próximas eleições presidenciais.
Integrantes do governo veem com bons olhos a aproximação do deputado Elmar Nascimento (BA), líder do União Brasil na Câmara. Adversário histórico de petistas na Bahia, o parlamentar fez campanha para candidatos da sigla no estado nas eleições municipais e negocia se juntar à base aliada do governador Jerônimo Rodrigues (PT).
O deputado chegou a ser cotado para assumir um ministério no início do governo, mas seu nome foi vetado no Planalto pelo currículo de opositor. O veto, segundo interlocutores de Lula, não existe mais —e, se houver acordo com União Brasil, Elmar pode assumir uma pasta, já que foi preterido na disputa com Hugo Motta (Republicanos-PB) pela presidência da Câmara.
Já a possibilidade de entrada no governo do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é considerada mais remota. O parlamentar não estaria disposto a se atrelar agora ao projeto de reeleição de Lula e não tem perfil para ser cobrado por outro ministro. Além disso, teria que receber uma pasta de tamanho semelhante ao do Ministério dos Transportes, de Renan Filho, o seu rival político em Alagoas. Auxiliares de Lula não descartam dar mais espaço para o PP com novos cargos para atrair apoio do partido.
Com informações do jornal O Globo