O ex-senador Jean Paul Prates fez duras críticas nesta quarta-feira 24 à forma como o PT tem escolhido seus candidatos no Rio Grande do Norte. Em entrevista ao programa Central Agora RN, da TV Agora RN (YouTube), Prates disse estar “decepcionado” com a distância entre o discurso de democracia interna do partido e a prática atual de definições centralizadas.
De acordo com Jean, o PT potiguar está vivendo uma “Raimundocracia” – uma espécie de regime em que o secretário-chefe do Gabinete Civil do Governo do Estado, Raimundo Alves, decide sozinho. Raimundo tem sido um dos principais interlocutores do partido e é homem forte da gestão da governadora Fátima Bezerra.

Para o ex-senador, o processo que levou à indicação do secretário de Fazenda, Cadu Xavier, como pré-candidato ao Governo do Estado em 2026 exemplifica esse fenômeno. Ele diz que não houve discussão interna.
“Quando se lança candidato sem discutir com a base, quando a gente não debate mais, não se reúne para isso, quando a gente faz uma eleição para presidente nacional lindíssima, mas logo depois começa-se a escolher candidato sem nenhum processo decisório participativo, eu começo a desconfiar do discurso e da prática”, afirmou Jean.
Jean Paul destacou que mantém respeito pela militância do PT, especialmente no interior, mas que não reconhece o mesmo espírito democrático na direção estadual. Para ele, a condução das escolhas está concentrada nas mãos de Raimundo Alves.
“(…) O partido, neste aspecto da escolha de candidatos, é comandado por Raimundo Alves. Raimundo é o comandante do PT. Depois que ele dá aquela entrevista definitiva, todo mundo, imediatamente, sai obedecendo aquilo e fazendo exatamente como ele planeja”, disse.
Jean Paul lembrou que, em 2022, quando tentava a reeleição para o Senado, foi preterido pelo partido em favor do ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo Alves (PSD). Para ele, aquela estratégia foi equivocada e trouxe consequências negativas para o campo progressista.
“Foi, aliás, a única cadeira que migrou do campo progressista para o conservadorismo e para a direita do Senado, das 81 cadeiras que foram submetidas à sufrágio naquela eleição. A única que nós perdemos para a direita foi a de Jean para Rogério Marinho”, ressaltou.
“Raimundocracia”
O ex-senador ironizou o peso político de Raimundo Alves dentro do partido. “É ele que decide? No escurinho do Gabinete Civil, sei lá, sozinho? E depois todo mundo diz ‘amém’, ‘amém’, ‘beleza’? É isso mesmo? É mais inteligente que todo mundo?”, questionou.
Ele disse ainda que já havia usado antes o termo “caciquismo” para se referir ao modelo de decisão, mas que a expressão foi rejeitada por aliados. “Então está bom, é uma Raimundocracia. Inclusive com Fátima. Porque podem dizer ‘mas Fátima manda nele’, ‘aquilo é com o beneplácito dela’. Então, estão errados os dois”, completou.
Desconsiderado nas articulações
Prates relatou que em nenhum momento foi consultado pelo partido sobre as articulações recentes, embora tenha colocado seu nome à disposição como pré-candidato ao Senado em 2026. “É como se tivesse um recado: ‘olha, se toca que você não está mais na crista da onda, a gente não precisa de você para nada’”, disse.
Ele reforçou que não se trata de uma reivindicação pessoal por espaço, mas de um problema estrutural na forma como o PT tem tratado seus quadros históricos. “Tratar a pessoa que foi, por exemplo, senador, numa situação muito difícil, candidato a prefeito de Natal, presidente da Petrobras, que trouxe muita coisa para o Rio Grande do Norte, e simplesmente desprezar, desconsiderar, num momento de escolha, mesmo como voto, eu acho que está errado”, criticou.
Risco para o partido
Jean Paul também alertou para o risco de que esse modelo de condução interna fragilize o PT no pleito de 2026. “Eu não vou dizer que seja por causa de Cadu. E não é por causa de Cadu. Mas, por conta da forma de fazer o processo”, avaliou.
Para o ex-senador, exemplos de estados como Piauí, Ceará e Bahia — onde governadores conseguiram eleger sucessores oriundos do secretariado — não se aplicam de forma direta ao Rio Grande do Norte. Isso porque, na avaliação dele, a governadora Fátima Bezerra não tem índices de aprovação comparáveis aos de Wellington Dias, Camilo Santana ou Rui Costa à época em que lançaram seus sucessores.
Continuidade no PT é incerta
Apesar das críticas, Jean Paul disse que ainda mantém diálogo com a governadora Fátima Bezerra e que não tomou uma decisão definitiva sobre deixar o PT. “Cada vez é mais difícil me convencer de que essa decepção com a forma de escolher candidatos está errada. Fica difícil, porque os atos se repetem. De ontem para hoje se repetiu de novo isso. Então, é a terceira vez”, declarou.
Mesmo assim, ele ponderou que sua atuação política não depende da manutenção de cargos ou mandatos. “Não vivo da política, não faço questão de ter espaço em chapa para eventualmente ter mandato. Eu vivo do meu trabalho profissional. Então, se um partido que eu estou não pensa dessa forma, eu talvez tenha que procurar um que pense dessa forma”, concluiu.