O ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo Alves (PSD) quebrou o silêncio público e fez duras críticas nesta segunda-feira ao seu sucessor no cargo, o também ex-prefeito Álvaro Dias (Republicanos). Em entrevista à rádio Mix, Carlos Eduardo afirmou que Álvaro foi “ingrato” e “desleal” com ele – por não ter retribuído, em 2024, o apoio político que recebeu em 2018 e em 2020.
A declaração mais contundente veio quando Carlos Eduardo resumiu a desilusão com o ex-aliado: “Você acha que conhece alguém, mas realmente só conhece quando entrega o poder a ela.”
Álvaro Dias, que era vice-prefeito, assumiu a Prefeitura do Natal em 2018 após o então prefeito Carlos Eduardo renunciar ao cargo. Em 2020, quando foi candidato à reeleição, Álvaro teve o apoio de Carlos, que indicou a vice-prefeita Aíla Cortez. Apesar disso, em 2024, Álvaro preferiu apoiar o então candidato Paulinho Freire (União), hoje prefeito. Carlos Eduardo foi candidato e ficou em 3º lugar, fora do segundo turno.
Durante a entrevista, Carlos Eduardo lembrou que tinha uma relação de quase 30 anos com Álvaro. “Frequentávamos as casas, as famílias”, registrou ele. Além disso, afirmou ter dado ao sucessor a “oportunidade que ele nunca teve na vida”: assumir a Prefeitura do Natal em 2018. Segundo Carlos, na época (2018), Álvaro era um “político decadente, rejeitado lá em Caicó”. “Ele não se elegeria, provavelmente, vereador de Natal”, declarou Carlos.
Carlos Eduardo contou que, em 2024, buscou um “ajuste” político com Álvaro, mas a tentativa foi frustrada. “Eu fui conversar com ele, porque eu tinha passado para ele três anos de mandato, aonde ele não se elegeria, provavelmente, nem vereador de Natal. Ele ficou com a Prefeitura, então achei que poderíamos fazer um ajuste: ele me devolver o apoio que eu dei a ele”, afirmou.
Questionado se Álvaro Dias havia sido ingrato, Carlos Eduardo foi direto: “Ele foi desleal, ele foi ingrato. Ele demonstrou o seguinte, que aquela amizade não existia. Ou então que ele é uma outra pessoa, realmente. É aquela pessoa que só se conhece quando dá o poder a ela.”
O ex-prefeito afirmou que se arrepende de ter apoiado Álvaro Dias. “Me arrependo, porque é aquela história: você acha que conhece alguém, mas realmente você só conhece quando você entrega o poder a ela.”
Ex-prefeito admite conversar com o PT: ‘Não faço política com retrovisor’
Carlos Eduardo também afirmou que está aberto a conversar com o PT para as eleições de 2026, apesar do embate travado na última eleição municipal. Segundo ele, o diálogo faz parte da política e eventuais desavenças do passado não devem impedir novas alianças. Nos últimos dias, o nome de Carlos passou a ser lembrado como possível candidato ao Senado com apoio do PT.
“Eu não faço política com retrovisor”, declarou. “Eu acho que o diálogo e a conversa fazem parte da arte política. Nós estamos disponíveis a conversar. Eu posso conversar com o PT, como vou conversar com o União Brasil, com o PV, com o MDB… Essas são [conversas] preliminares e é absolutamente normal dentro de um processo político. As definições ficam para o ano que vem”, acrescentou.
A declaração de abertura ao diálogo ocorreu após o nome de Carlos Eduardo ser citado pelo secretário-chefe do Gabinete Civil, Raimundo Alves, como possível candidato ao Senado na chapa governista em 2026. O ex-prefeito negou ter tratado do assunto, mas não descartou conversas futuras. “Nunca tratei de candidatura majoritária. Um jornal perguntou ao Raimundo Alves, chefe do Gabinete Civil, se eu poderia ser candidato a senador. Ele disse que sim, que era um bom nome, mas eu estou na linha do meu partido”, explicou.
O ex-prefeito, que ficou fora dos holofotes por cerca de um ano devido a questões pessoais e de saúde, disse que o bom desempenho em uma pesquisa recente reacendeu sua disposição de disputar novamente um cargo majoritário. “Eu fui despertado há 20 dias com essa pesquisa. Isso está me trazendo de volta à arena”, afirmou.
Ao comentar os rumos da sua carreira, Carlos Eduardo destacou que não teme novos desafios eleitorais, mesmo após derrotas recentes. “A derrota só é fatal se você desistir. Eu reflito muito sobre isso. Aqueles que percorrem um caminho plano nunca desenvolvem suas forças. A adversidade é uma grande mestra. Faz você descobrir forças que você jamais descobriria em outra situação”, declarou.
Ele também avalia disputar mandato de deputado federal
Além de sondar possíveis candidaturas majoritárias, Carlos Eduardo revelou que também analisa a possibilidade de disputar uma vaga de deputado federal em 2026. Segundo ele, a ideia surgiu após conversas com lideranças políticas e partidárias que o procuraram para discutir a formação de uma nominata competitiva.
“Eu fui procurado pelo ex-deputado e atual secretário de Planejamento de Parnamirim, Kelps Lima, e pelo presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura (CBPA), Abraão Lincoln, com o objetivo de se fazer uma nominata, e que a gente pudesse ter condições de disputar a eleição de deputado federal”, declarou.
Apesar dos convites, o ex-prefeito afirmou que ainda não tomou uma decisão definitiva. “Foram contatos esporádicos, nada definitivo”, disse, destacando que as conversas têm caráter preliminar e que as definições ocorrerão apenas em 2026.
Político revela que foi a SP tratar recidiva de câncer de próstata
Durante a entrevista à rádio Mix FM, Carlos Eduardo revelou pela primeira vez que enfrentou um novo episódio de câncer de próstata, diagnosticado no fim de 2024. Ele contou que precisou se afastar da vida pública para tratar da saúde e passou cerca de seis meses em São Paulo ao lado da família.
“Em dezembro do ano passado, o meu médico aqui, Dr. Paulo Medeiros, identificou uma recidiva de um câncer de próstata. Como há cinco anos eu já tinha feito a cirurgia – robótica, menos invasiva -, ele me mandou para São Paulo”, relatou.
O ex-prefeito explicou que o tratamento exigiu uma mudança temporária de rotina. “O médico me disse que eu teria que passar três meses lá. Meus filhos são adolescentes, então resolvemos ir todos juntos. Passamos seis meses em São Paulo, a menina foi para a faculdade, o garoto, para o colégio, e eu fiz o tratamento com a família. Isso foi muito importante”, contou.
Carlos Eduardo disse que o período foi de reflexão e amadurecimento pessoal. “Isso foi muito importante. Saí um pouco da correria do dia a dia”, afirmou.
