29/10/2020 | 05:10
Quatros mulheres sem sobrenomes tradicionais e conhecedoras das dificuldades sociais da periferia de Natal têm o desejo de revolucionar a política local para beneficiar a população. Camila Barbosa, de 24 anos, Letícia Catu, de 20, Ariane Idalino, de 29, e Cida Dantas, de 57, compõem a primeira candidatura coletiva inteiramente composta por mulheres a concorrer a uma das 29 cadeiras da Câmara Municipal da capital.
Com o propósito de colocar a mulher em evidência, a candidatura intitulada “Juntas” deseja, através de um mandato popular, criar Centros de Atendimento à Mulher em toda capital que acolha, por meio de assistência psicossocial, as vítimas de assédio e violência.
“As mulheres que sofrem violência precisam de suporte além do atendimento hoje oferecido. É necessário garantir que ela tenha como sair deste cenário com dignidade, como integrando o mercado de trabalho. Afinal, muitas delas têm filhos que precisam de assistência. E quando algo afeta uma mulher, afeta todas nós”, comentam.
As candidatas planejam para que, caso assumam o posto de vereadoras, os centros ofereçam possibilidades de emancipação afetiva e econômica às mulheres vítimas de violência, a exemplo de cursos de capacitação e atividades de aperfeiçoamento profissional.
Se eleitas, apenas Camila Barbosa poderá assumir a vaga (por causa das Lei Eleitoral), mas ela garante que as lutas, propostas e responsabilidades serão divididas entre as quatro, atuando, de fato, como um mandato coletivo, a exemplo do que já acontece em outras câmaras do Brasil, mas garantindo sua própria identidade através da pauta feminista e popular.
Atualmente, um total de 110 candidaturas coletivas foram registradas no País, entre os anos de 1994 e 2018, segundo a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps).
“A gente pensa em conjunto. As mulheres precisam dessa união e representatividade, já que entendemos quais são os anseios desta população. Para ajudá-las, recorreremos à educação, nossa principal arma. Precisamos desde cedo discutir a violência doméstica para ajudarmos no processo de formação de meninos e meninas”, refletem.
“Juntas” explicam que querem difundir o conhecimento das políticas públicas existentes voltadas para o enfretamento da violência contra mulher, pois alegam que nem todas conhecem os centros de referência, por exemplo. Como vereadoras, elas desejam socializar essas ações.
Em uma nação culturalmente machistas, elas querem parar com o costume de homens decidirem pelas mulheres. “A sociedade que a gente vive exige um maior protagonismo das mulheres. Compreendendo que a mulher precisa ocupar seu espaço na política, pensamos na construção desta candidatura coletiva com mulheres que têm o objetivo fazer uma nova política, pois entendemos que a velha política já está apodrecendo”, revelam.
As integrantes da Juntas pretendem desenvolver também ações para outras minorias, como camelôs e mulheres de presidiários, mesma luta defendida pelo deputado estadual Sandro Pimentel (PSOL). “O exemplo dele nos mostra o quão importante é um mandato popular. Ele e o PSOL são referências para nós, pois conhecemos o trabalho feito e nos orgulhamos disso”, destacam.
As candidatas reforçam, ainda, que o PSOL é um partido de rua, pois entendem que “é a partir das ruas que construímos a nossa luta e organização”.
E completam: “Nosso partido cresce em todo Brasil. Aqui no estado estamos no mesmo caminho. O Sandro Pimentel é um bom exemplo de liderança. Ele foi o pioneiro no debate da causa animal no Rio Grande do Norte, tendo um olhar amplo da saúde pública”.
A Juntas tem dialogado com o deputado estadual Sandro Pimentel (PSOL) para pensar políticas públicas que garantam a dignidade e os direitos humanos das mulheres.
O coletivo aponta que Sandro Pimentel foi o responsável por instaurar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Arena das Dunas. “Estamos juntos, porque a política se faz na coletividade”, afirmou Camila.
A candidatura de Camila, Letícia, Ariane e Cida pretende colocar mais mulheres em espaços públicos que, de acordo com elas, “foi e é negado, porque quando não somos nem 50% dos parlamentares, entendemos que esse espaço não é nosso. Por isso queremos ocupar, com mais gente e mais vozes, através de um trabalho atuante e coletivo, como deve ser”, finalizam.