Inaugurado no dia 25 de outubro, o Sussurro nasce em Natal como a resposta íntima de um criador que decidiu transformar seus próprios incômodos em um espaço onde pessoas, ideias e encontros voltam a ter espaço para respirar. Localizado na rua Cabo de são roque, 8821, em Ponta Negra, o bar é criação de Olavo César Cassiano Ataíde, 31 anos, escritor e publicitário, que encontrou na coquetelaria um caminho possível para unir criatividade, arte e fonte de renda.
Depois de anos imerso no universo da comunicação e branding, ele deixou de encontrar estímulo no ritmo da publicidade e percebeu que escrever, embora vital, não poderia carregar sozinho a responsabilidade financeira da vida adulta. A criação de um bar surgiu como solução: um espaço onde pudesse continuar inventando, só que agora no ambiente físico, sensorial e cotidiano dos encontros. “Esse bar nasceu como uma solução dentro da minha cabeça que ainda conseguisse deixar que eu fosse criativo.”, comenta.

A coquetelaria sempre o atraiu, e a ideia de construir um lugar que refletisse suas escolhas, seu gosto e sua liberdade criativa o motivou a planejar o Sussurro ao longo de mais de um ano. O bar nasceu com a proposta de ser um espaço leve, sem amarras — nem para quem cria, nem para quem frequenta. O nome não veio de uma referência direta, foi escolhido pela força simbólica. “O nome vem de uma sensação, não de uma resposta objetiva. Eu acho que a palavra remete à intimidade, a conversar, a mistério, a uma coisa que é compartilhada por pessoas que se conhecem”, afirma. É esse o clima que Olavo deseja oferecer.
Na pesquisa que fez sobre a cena natalense, ele identificou dois extremos: lugares sofisticados e caros, e espaços simples e populares. O “caminho do meio”, segundo percebeu, ainda não era plenamente ocupado. O Sussurro nasce exatamente nesse intervalo, um ambiente que não exige produção para entrar, mas que também não se entrega ao improviso absoluto. Um bar que combina estética e conforto.
A ambientação é um dos diferenciais do local. A base é clara, com branco predominantemente nas paredes, criando um cenário atemporal e que não polui visualmente. Em contraste, cores fortes marcam presença: um lado azul, outro rosa, banheiros em tons intensos de verde e rosa, e o vermelho como cor central da identidade. Referências vintages ajudam a compor um clima familiar, clássico e livre ao mesmo tempo. A simplicidade é intencional: “Eu queria ter uma simplicidade, uma clareza visual, existe uma coisa muito forte com as listras, que acaba dando um clima mais anos 50, anos 60.”, comenta.

Mas é na arte que o Sussurro encontra sua espinha dorsal. A pesquisa de referências levou Olavo ao surrealismo, não como estética literal, mas como liberdade criativa. “O surrealismo que eu falo não é sobre os quadros de Salvador Dalí, mas sobre o pensamento surrealista de que a arte se faz quando você dá liberdade para a criação.” Entre suas influências estão nomes como David Lynch, Rita Lee, RuPaul e a Drag Queen Katya Zamolodchikova.
Essa liberdade se traduz também na carta de drinks. Exceto pelos clássicos, todos são criações próprias, com nomes, misturas e conceitos desenvolvidos internamente. Alguns partem da arte; outros, de expressões da língua portuguesa ou de sensações. Um deles, “Primeiro Encontro”, traz uma pequena pergunta presa ao copo. “Essa pergunta é feita para você que está pedindo a bebida, fazer para outra pessoa, e isso faz com que se gere um assunto daí.” Para Olavo, esse drink representa o Sussurro porque transforma uma ideia abstrata em gesto concreto: criar conexões.

O público do Sussurro mira jovens-adultos entre 20 e 45 anos, mas sem delimitações rígidas. “A gente quer uma juventude muito mais de sensação em relação à vida do que de idade de número.” O bar também assume um compromisso explícito com acolhimento. “A gente tem um olhar muito forte para o público LGBT, não é um bar apenas para o público LGBT, mas é um bar que se abre, se vende e se mostra muito aberto a receber esse público”, afirma. Olavo enfatiza que o Sussurro foi pensado como um espaço de conforto para todos. “Ser um lugar que mulheres podem ir sem medo e que uma pessoa trans pode ir sem ter receio.” Essa visão inclui também a preocupação em manter preços acessíveis.
A construção do bar levou um planejamento de nove meses, do financiamento ao cardápio. Mas o maior desafio, segundo Olavo, está no tempo: “O principal deles vai ser a estabilidade da marca.” Ainda assim, ele imagina um futuro onde o Sussurro se infiltra nas memórias afetivas da cidade. “O meu desejo para o Sussurro é que ele vá se tornando o bar favorito das pessoas, que um turista que vem para Natal, conhece e já se apaixona.”
E essa intenção já começa a se confirmar. “Estamos tendo uma grande procura para fazer aniversários, eu acho que é esse tipo de coisa que eu quero que fique.”, comenta Olavo. O Sussurro nasce como cenário para histórias: reencontros, celebrações, primeiros encontros. “Um plano de fundo para os momentos que tornam a vida mais especial.”.
