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Artigo

A depreciação da esquerda no RN

Leia o artigo de William Robson desta quarta-feira 11
William Robson
11/09/2024 | 05:41

Os dados recentes apresentados pelo site Poder360 podem jogar luz e predizer os próximos passos da esquerda brasileira. O seu enfraquecimento vem sendo constatado a partir da sequência da baixa representatividade de candidatos do campo para as eleições às prefeituras. A esquerda, segundo este estudo, não envolve tão somente um partido, mas todos aqueles integrantes do agrupamento.

Em especial, o RN, onde a governadora Fátima Bezerra (PT) teve reeleição consagradora no primeiro turno, é o primeiro da lista neste quesito. Apenas 22% das cidades apresentam candidatos da esquerda no Estado. Um deles, Mossoró, tem o nome do estudante Victor Hugo, ligado à Unidade Popular (UP). É o único deste grupo. O partido da governadora, por sua vez, fechou coalizões antes consideradas inadmissíveis na cidade e, mesmo assim, não consegue apresentar desempenho satisfatório para transpor o nicho.

Em Mossoró, a estratégia de Hugo como único representante do campo em Mossoró tem dado resultado. Com o PT integrando-se ao bolsonarismo, em acordo chamado pela mídia mossoroense de “bolsopetismo”, Victor Hugo se viu na obrigação de representar o campo. No último debate na TCM revelou a união dos adversários que “se passam” de oposição ao prefeito Allyson Bezerra (ao dirigir críticas fortes ao presidente da Câmara, Lawrence Amorim (PSDB), e ao empresário Genivan Vale (PL)). Como resultado, viu suas redes sociais bombarem de novos seguidores interessados em saber mais sobre o, até então, jovem desconhecido.

Mesmo assim, este panorama de Mossoró revela o caminho tortuoso que a esquerda tenderá a seguir. Sem protagonismo. Analistas mostram que se o campo da esquerda repetir a taxa de sucesso de 2020 (de 19,8% dos candidatos a prefeito eleitos, a pior em duas décadas), os partidos esquerdistas sairão das urnas com 673 cidades no país, menos do que governam atualmente. No RN, a esquerda não alcança uma dezena de cidades, situação que tende a se agravar.

Há algumas explicações para este ocaso. Uma delas, é a prioridade dos grandes partidos de esquerda, como o PT, em focar tão somente nas grandes cidades, de olho nas repercussões em nível federal. Há também pouca aderência das pessoas às prioridades apresentadas pelos partidos, muitas vezes, focadas no identitarismo e pouco nas questões comunitárias (algo primordial em disputas municipais). Isso leva ao distanciamento do eleitor em geral e, por outro lado, uma aproximação dos já convertidos militantes.

Há outro ponto interessante a ser observado. No RN, 18% dos potiguares afirmam se identificar com as pautas de esquerda, segundo informações do Instituto DataSenado e publicadas no Blog do Barreto. Neste levantamento, 31% se afirmam à direita, o que reforça o entendimento sobre tal depreciação da esquerda no Estado.

Para o pesquisador Eduardo Grin, da Fundação Getúlio Vargas, ouvido pelo Poder360, há “dificuldades de comunicação de partidos de esquerda com eleitores de cidades menores, que têm mais influência de famílias tradicionais e conservadoras, da igreja e pouca sociedade civil autônoma organizada”.

Porém, isso não ocorre em todos os lugares. Há exemplo discrepante no Ceará, estado vizinho ao RN. Também governado por um partido de esquerda, o PT, é o Estado com maior número de candidatos a prefeito pertencentes ao campo. O Ceará tem tradição de governos progressistas, o que pode justificar este índice mais elevado. Dos 184 municípios, 31 não terá candidato de esquerda. 83% das cidades terão representantes progressistas.

No caso potiguar, há evidente enfraquecimento da esquerda, que não consegue encontrar saída no próprio agrupamento. Em muitos casos, necessitam buscar alianças com partidos da direita e até associar-se com a extrema-direita, abrindo mão de pautas e de valores históricos. Enquanto isso, pequenos partidos buscam renovação, resgate do discurso e a essência ideológica, em meio ao desencanto.

William Robson é jornalista e professor. Doutor em Jornalismo (UFSC) e mestre em Estudos da Mídia (UFRN)

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Ato contra Bolsonaro em Natal / Foto: José Aldenir - Agora RN

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