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Política
Novo ministro, Fábio Faria abre crise no governo ao ser adotado por Maia e Alcolumbre
Faria e Ramos disputam interlocução política; candidaturas de Rossi e Anastasia são especuladas
Folha
03/07/2020 | 05:49

A chegada do deputado Fábio Faria (PSD-RN) ao recriado Ministério das Comunicações abriu mais uma crise interna no governo de Jair Bolsonaro (sem partido).

O motivo: a disputa pela primazia na articulação do Planalto no Congresso Nacional, nominalmente a cargo do general Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).

Faria é cria do Congresso. Aos 42 anos, tem mandato desde 2007 e circula bem pelo centrão, tão caro a Bolsonaro em tempo de ameaças difusas de impeachment.

Assim, não foi surpresa que fosse ele, e não Ramos, o convidado a integrar a Mesa do Congresso na sessão solene que promulgou nesta quinta (2) o adiamento das eleições municipais deste ano devido à pandemia da Covid-19.

Ele estava ao lado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso. Em sua posse, no dia 17 passado, defendeu um “armistício patriótico” no país.

Ramos nunca teve uma interlocução próxima com a dupla que comanda o Parlamento, que elegeu Faria como interlocutor preferencial —Alcolumbre é até visto como mais próximo do presidente, mas Maia está no que os bolsonaristas chamam de campo inimigo.

Só que tal desenvoltura do novo ministro tem incomodado pessoas no governo. O próprio presidente já disse a interlocutores que Faria, apelidado na Esplanada de “o genro”, por ter o empresário Silvio Santos como sogro, tem gosto por holofotes.

Isso já se provou fatal, de forma acessória a questões mais centrais, para ex-integrantes do governo, como Sergio Moro (Justiça) e Luiz Henrique Mandetta (Saúde).

Por outro lado, o trânsito de Faria também serve de argumento para aqueles que, no governo, apontam a falta de interlocução de Ramos com o outros Poderes. Para piorar, o general é rejeitado pela base bolsonarista no Parlamento.

Mas o mal-estar vem também da ala militar do governo. Se Ramos ocupa um lugar à parte por sua amizade com Bolsonaro, e está mais distante do que já esteve do eixo Fernando Azevedo (Defesa)-Walter Braga Netto (Casa Civil), os fardados são bastante corporativistas.

E Faria é visto como alguém que está usurpando funções de um colega da turma, que já está em xeque interno por ter apadrinhado a escolha desastrada do breve ministro da Educação Carlos Decotelli.

Assim, a ideia é preservar Ramos, que passou para a reserva devido à pressão da cúpula do serviço ativo, insatisfeita com a associação feita por Bolsonaro entre as Forças Armadas e sugestões golpistas.

O paradoxo da situação é que a escolha do “genro” foi pautada justamente por sua interlocução com o Parlamento, buscando amainar os graves atritos entre Executivo e Legislativo.

Hoje a ameaça de um processo de impeachment é mínima, dada a pandemia, a época de recesso do Judiciário e o esforço pacificador do Planalto.

Mas a cúpula do Congresso considera que qualquer faísca vinda da área judicial, onde o caso Fabrício Queiroz se adensa como uma nuvem de temporal contra Bolsonaro, passível de mudar o cenário a qualquer momento.

Além disso, ninguém, lá ou no Supremo Tribunal Federal, está convencido da conversão do presidente ao figurino paz e amor vigente desde que Queiroz foi preso, no dia 18 de junho. A Folha não conseguiu falar com Ramos, que sempre nega qualquer risco a sua posição, e Faria.

Há um grande problema já no horizonte: a sucessão do comando das Casas, em fevereiro de 2021. Maia não pode buscar a reeleição legalmente e já desistiu de ir ao tapetão do Supremo, ao contrário de Alcolumbre, que vislumbra um atalho jurídico para ficar na cadeira.

O presidente da Câmara passou por um momento de baixa durante o processo de cooptação do centrão e de partidos próximos, como o PSD de Faria, por Bolsonaro. Com talvez 200 de 513 votos, a tropa é suficiente para barrar processos de impedimento.

Maia sempre foi o “rei do centrão”, e de repente viu Arthur Lira (Progressistas-AL) assumir o trono e se viabilizar para a sucessão, incentivado por Bolsonaro.

Só que o tiro incapacitante do caso Queiroz no governo se somou à denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Lira, no âmbito da Operação Lava Jato, no mês passado. Maia reagrupou forças, demonstrando isso na costura do adiamento das eleições.

Agora, ele trabalha preferencialmente pela candidatura de Baleia Rossi (SP), deputado que preside o MDB. O nome agrada o centrão e tem trânsito no hoje deslocado PSDB e mesmo na esquerda. Publicamente, ninguém fala sobre o assunto.

Governadores hoje em disputa aberta com Bolsonaro veem Rossi como uma opção boa, em especial se a alternativa for Lira.

No Senado, esses mesmos chefes estaduais gostariam de ver outro nome no lugar de Alcolumbre. O mais citado é Antonio Anastasia (PSD-MG), vice-presidente da Casa, que já descartou a hipótese a interlocutores.

Um deles lembra, contudo, que ele também resistia a relatar o impeachment de Dilma Rousseff (PT), e acabou assumindo a missão.

Discreto e de perfil técnico, o senador nunca seria visto tentando apaziguar Bolsonaro como Alcolumbre fez no fatídico 4 de maio, quando virou a noite no Palácio da Alvorada até que o presidente desistisse de renomear Alexandre Ramagem para a Polícia Federal —desobedecendo o Supremo.

Para governadores de oposição e parlamentares moderados, um Congresso com Rossi e Anastasia seria um seguro contra inciativas exóticas do Planalto, no caso de Bolsonaro recuperar condições de governabilidade. E de transição, no caso de ele não estar na Presidência no ano que vem.

Contra esse arranjo há o MDB. A prioridade no partido é voltar ao comando do Senado, onde há três candidatos (Simone Tebet, Eduardo Braga e Eduardo Gomes) internos, o que poderia dificultar o jogo para Rossi na Câmara.

Todo isso mira 2022, se Bolsonaro permanecer no cargo. A aproximação do MDB com o PSDB em São Paulo, com o apoio de José Luiz Datena à reeleição do prefeito Bruno Covas, sugere uma frente com o DEM em torno de um nome, que hoje seria o do governador tucano João Doria (SP).

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