Tradicionalmente associado à prevenção do câncer de próstata, o Novembro Azul ganha, este ano, uma urgência ainda maior: chamar atenção para a saúde mental masculina — um campo historicamente negligenciado, cercado de tabus e silenciosamente responsável por números alarmantes.
De acordo com dados de 2021, o Brasil registrou 15.507 óbitos por suicídio. Desse total, 12.072 eram homens, representando 78% das mortes. A taxa padronizada de mortalidade masculina por suicídio quase dobrou ao longo dos últimos anos, passando de 6,5 para 11,3 óbitos por 100 mil habitantes.

A partir do mote “Não é só próstata”, a campanha deste ano busca ampliar o debate para três pilares fundamentais:
- Prevenção ao suicídio e à depressão masculina;
- As “máscaras sociais” da masculinidade, que dificultam o pedido de ajuda;
- Transtornos neuropsicológicos subdiagnosticados, como TDAH, alterações de funções executivas, impulsividade e dificuldades de regulação emocional.
Embora pesquisas apontem uma prevalência diagnóstica menor de depressão entre homens — cerca de 4%, segundo meta-análise — especialistas alertam para um provável subdiagnóstico, já que muitos evitam expressar sofrimento, realizar acompanhamento terapêutico ou buscar atendimento especializado.
Para a neuropsicóloga Tatiana Assunção, esse cenário é resultado direto de expectativas sociais rígidas.
“Ainda ensinamos nossos meninos que sentir é fraqueza. Quando chegam à vida adulta, muitos homens se veem incapazes de pedir ajuda, e isso os coloca em risco. Reconhecer o sofrimento e buscar apoio é um ato de coragem — e pode salvar vidas.”, destaca a neuropsicóloga Tatiana Assunção.

Além da depressão e da ideação suicida, há quadros neuropsicológicos que impactam o comportamento e o desempenho cognitivo dos homens, mas seguem invisibilizados por falta de diagnóstico adequado. A avaliação neuropsicológica, segundo especialistas, é ferramenta essencial para identificar alterações decorrentes de transtornos afetivos, estresse severo ou condições neurológicas.
A invisibilidade desses sintomas reforça barreiras, adia diagnósticos e perpetua ciclos de sofrimento silencioso. Daí a importância de reafirmar a mensagem central deste Novembro Azul ampliado: cuidar da saúde mental é um gesto de força — e não de fraqueza.