Empresário Carlos Wizard chega para depor à CPI da Covid Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
CaladoWizard faz discurso religioso na CPI e se recusa a responder a perguntas: ‘Vou permanecer em silêncio’
Empresário é suspeito de integrar o suposto "gabinete paralelo", que aconselhou Bolsonaro na condução da pandemia e defendeu o uso de remédio ineficazes contra o coronavírus
O Globo 30/06/2021 | 13:07
Empresário Carlos Wizard chega para depor à CPI da Covid Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
O empresário Carlos Wizard afirmou que ficará em silêncio durante seu depoimento à CPI da Covid, no Senado. Ele pode fazer isso devido uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).Antes de afirmar que não vai responder às perguntas dos senadores, o empresário, suspeito de integrar o suposto “gabinete paralelo”, fez um discurso religioso e justificou o motivo pelo qual não foi a sua primeira convocaçao ao colegiado.
— Feitos esses esclarecimentos, doravante, vou permanecer em silêncio.
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Wizard é suspeito de integrar o suposto “gabinete paralelo”, que aconselhava o presidente Jair Bolsonaro na condução da pandemia em contraposição ao Ministério da Saúde. Um dos principais objetivos do depoimento do empresário é esclarecer se o grupo, que funcionava no Palácio do Planalto, foi financiado pela iniciativa privada.
O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), resolveu fazer perguntas mesmo assim.
— Me reservo ao direito de permanecer em silêncio — respondeu Wizard a cada pergunta feita.
O presidente da comissão, o senador Omar Aziz, reclamou da postura do empresário:
— É melhor pegar um gravador e nem abrir a boca.
Em sua fala inicial, Wizard disse que não teve intenção de se indispor do país e foi para os Estados Unidos ver o pai que já está em idade avançada e doente, e filha, que está numa gravidez de risco.
— Jamais, em tempo algum, passou pela minha mente, pensamento, no meu íntimo, na minha alma, no meu coração a indisposição de estar presente fazendo meu depoimento. Não tenho razão para isso. Como é de conhecimento público, me ausentei em março do país, muito antes da instauração da CPI.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) disse que ele deveria ter explicado isso antes à comissão.
‘Gabinete paralelo’
A oitiva de Wizard estava inicialmente prevista para 17 de junho, mas ele não compareceu porque estava nos Estados Unidos. A Justiça, então, determinou a retenção do passaporte do empresário, que chegou na segunda-feira ao Brasil e entregou o documento à Polícia Federal.
Questionado sobre a existência do suposto “gabinete paralelo”, Wizard negou pertencer a qualquer grupo do tipo.
— Isso me deixa bastante indignado. A minha disposição de servir o país combatendo a pandemia e salvar vidas faz com que eu seja acusado de pertencer a um suposto gabinete paralelo. Eu afirmo aos senhores, com toda veemência, que jamais tomei conhecimento de qualquer governo paralelo. Se por ventura esse supostos gabinete parlalelo existiu, eu jamais tomei conhecimento ou tenho qualquer informação a respeito. Jamais fui convidado, abordado, convocado para participar de qualquer gabinete paralelo — disse, acrescentando:
— Jamais tive qualquer influência no pensamento do presidente.
Sobre a defesa de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19, ele destacou que, no começo da pandemia, o cenário era outro, com pouco conhecimento. E defendeu a vacinação para enfrentar a doença atualmente.
O empresário chegou para prestar depoimento segurando uma placa citando um versículo bíblico. Senadores independentes e da oposição pretendem questionar Wizard sobre o incentivo à propagação de notícias falsas e medicamentos sem eficácia comprovada, como a hidroxicloroquina. O empresário também será indagado sobre o envolvimento dele e de outros empresários bolsonaristas, como Luciano Hang, nas tratativas para a compra de vacinas.
Convocações aprovadas
A CPI da Covid aprovou nesta quarta-feira a convocação do líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), e do agora ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, que também teve o sigilo bancário, telefônico, fiscal e telemático quebrado. Ao todo, foi aprovada a convocação de 21 pessoas. A comissão aprovou ainda a convocação do empresário Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que denunciou pedido de propina no Ministério da Saúde na negociação de vacinas com a empresa Davati Medical Supply.
Segundo Omar Aziz, Luis Miranda será ouvido na terça-feira da semana que vem, e Ricardo Barros na quinta. Além disso, na sexta da próxima semana, está programada a sessão secreta com o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel, que já tinha sido aprovada antes pela comissão.
Em um início de sessão turbulento, com bate-boca entre os senadores, a comissão aprovou, entre os requerimentos, a convocação do líder do governo na Câmara, o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) — o nome dele teria sido citado por Bolsonaro relacionando-o com as irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin, segundo disse à CPI o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF).
Assim como a de Barros, também foi aprovada a convocação de Roberto Ferreira Dias, ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde que teria pedido propina na compra das vacinas. Ele também foi acusado de pressionar pela aprovação célere da Covaxin. Além disso, também foi votada a convocação da diretora técnica da Precisa Medicamentos, empresa que intermediu a compra do imunizante, Emanuela Medrades, e seu representante Túlio Silveira.
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