14/06/2021 | 14:40
naugurada há dois anos no Sul da China, a central nuclear de Taishan apresenta risco de “ameaça radiológica iminente” em razão de uma alta concentração de gases em seu circuito. Um de seus reatores, construído em parceria com a empresa francesa EDF, está sendo monitorado para evitar um possível acidente.
“A EDF foi informada do aumento da concentração de certos gases raros no circuito primário do reator n° 1 da usina nuclear de Taishan de propriedade e operada pela TNPJVC, uma joint venture da CGN (70%) e da EDF (30%)”, anunciou o grupo francês em um comunicado divulgado nesta segunda-feira.
A operadora chinesa garante que as emissões para o ambiente estão “normais”. O circuito primário é um circuito fechado contendo água pressurizada, que se aquece na cuba do reator em contato com elementos combustíveis, os quais são empilhados em “hastes” envoltas por bainhas metálicas.
“A presença de determinados gases raros no circuito primário é um fenômeno conhecido, estudado e previsto pelos procedimentos operacionais dos reatores”, acrescentou a empresa.
Os chamados gases “raros” incluem argônio, hélio, criptônio, néon, ou mesmo xenônio. Alguns são produzidos durante a reação de fissão no reator.
“Deve haver bainhas metálicas vazando, deixando passar gases raros que contaminam o fluido primário”, comentou a vice-diretora-geral do Instituto Francês para Proteção contra Radiação e Segurança Nuclear (IRSN), Karine Herviou, em conversa com a AFP.
Segundo ela, ainda não é possível se falar em acidente, já que a extensão do fenômeno não é conhecida. Herviou afirmou que por enquanto “não há grande preocupação” e que a contaminação do fluido primário não significa liberação para o meio ambiente, uma vez que existem duas barreiras de contenção.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), com sede em Viena, também declarou que “nesta fase” não há “nenhuma indicação de que tenha ocorrido um incidente radiológico”.
Os dois reatores de Taishan, não muito longe de Macau e de Hong Kong, são até agora os únicos EPRs em serviço no mundo. Outros exemplares destes reatores de terceira geração estão em construção na Finlândia, na França e no Reino Unido, mas vários reveses técnicos atrasaram seu comissionamento por vários anos.
A Framatome, subsidiária da EDF que participou da construção dos reatores de Taishan, havia indicado mais cedo que monitora “a evolução de um dos parâmetros operacionais” no local, mas sem dar detalhes, ou falar em vazamento.
A central “está em seu campo de operação e segurança autorizada”, garantiu a Framatome em nota à AFP.
“Ameaça radiológica”
Com base em uma carta enviada pela Framatome ao Departamento de Energia dos Estados Unidos, a CNN revelou um possível “vazamento” nesta central.
A Framatome teria se dirigido aos Estados Unidos para solicitar autorização de assistência técnica para resolver “uma ameaça radiológica iminente”. Não se sabe por que o aval americano é necessário para intervir. Ainda de acordo com o canal americano, as autoridades de segurança chinesas também aumentaram os limites aceitáveis de radiação fora do local para evitar o desligamento da usina.
Já a operadora da central, China General Nuclear Power Group (CGN), divulgou um comunicado de imprensa, informando que os indicadores ambientais “normais”.
“Atualmente, o monitoramento contínuo dos dados ambientais mostra que os indicadores ambientais da usina nuclear de Taishan e seus arredores são normais”, disse o grupo chinês.
O Ministério chinês das Relações Exteriores também não respondeu aos pedidos, assim como a Comissão de Energia Atômica da França. A EDF afirma que entrou em contato com a joint venture TNPJVC e “coloca sua expertise à disposição”. O grupo francês disse ter convocado uma reunião extraordinária da entidade detentora da central para apresentar “todos os dados e as decisões necessárias”.
A China tem cerca de 50 reatores em operação, o que coloca o país em terceiro lugar no mundo, atrás de Estados Unidos e França.