Dados do relatório Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil, divulgado nesta terça-feira 10 pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), apontam que 85,5% crianças e adolescentes de 0 a 17 anos que vivem no Rio Grande do Norte enfrentam pelo menos uma privação básica. O relatório se baseia na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A taxa de 85,5% é relativa ao ano de 2022. Em 2019, era de 90,4%. Portanto, houve uma diminuição de quase 5 pontos do índice. Para medir a pobreza multidimensional, o Unicef avalia o acesso de crianças e adolescentes a seis direitos básicos: renda, educação, informação, água, saneamento e moradia.
No RN, verifica-se alta incidência de crianças e adolescentes que vivem com privação de saneamento e renda adequados – de 68,93% e 54,02%, respectivamente, no último ano. Em seguida, educação e acesso à água são as dimensões com maior percentual de crianças e adolescentes em condição de privação – 13,03% e 8,43%, respectivamente, em 2022.
Entre os estados brasileiros, o Rio Grande do Norte aparece em quinto na lista com os maiores índices de crianças e adolescentes com privações, ficando atrás de Amapá (91,7%), Piauí (91,6%), Pará (91,2%) e Maranhão (90,2%). O Norte e o Nordeste figuram com os piores índices de crianças e adolescentes com alguma privação, já que nenhum estado entre ambas as regiões fica abaixo da marca de 70% – quanto maior o percentual, piores as condições da população até 17 anos.
Crianças e adolescentes do Brasil
A pesquisa mostra que o Brasil conseguiu reduzir o percentual de pessoas com até 17 anos de idade com alguma privação. Em 2016, a proporção era de 66,1%. Em 2019, último ano antes da pandemia, 62,9%. Em 2022, a taxa ficou em 60,3%. Esse percentual representa 31,9 milhões de crianças e adolescentes de um total de 52,8 milhões no país. Ao se observar a pobreza multidimensional pelo prisma da cor da população, 48,2% dos brancos apresentava alguma privação, enquanto no grupo dos negros o índice era de 68,8%. Essa diferença de 20,6 pontos percentuais (p.p) era de 22,1 p.p em 2019.
Analfabetismo
O panorama de jovens de 4 a 17 anos de idade com acesso à escola na idade correta segue, desde 2016, uma trajetória crescente. Em 2022, 93,8% deles estavam na série adequada, 3,4% tinham uma privação intermediária e 2,9%, privação extrema. De acordo com o relatório, “os dados da privação relativa a estar na escola na idade certa podem ser resultado da aprovação automática na pandemia”. Para o Unicef, isso demanda “abordagens mais cautelosas e contextualizadas ao interpretar dados educacionais em tempos de crise”.
Já em relação à alfabetização, o estudo do Unicef acende um sinal de alerta. Há uma grande piora no analfabetismo. A proporção de crianças de 7 anos de idade que não sabem ler nem escrever saltou de 20% para 40% de 2019 para 2022. Situação similar à de crianças de 8 anos de idade. De uma taxa de 8,5%, em 2019, houve elevação para 20,8%, em 2022. Para as crianças de 9 anos de idade, a proporção cresceu de 4,4% para 9,5%, de 2019 para 2022.
Mais uma vez, a discrepância entre negros e brancos se mostra presente. O percentual de crianças brancas de 7 a 10 anos de idade consideradas analfabetas era de 6,3% em 2019 e 15,1% em 2022. Já entre as negras, 10,6% e 21,8%, respectivamente.