Os DJs estão superanimados, a música está alta e os jovens se preparam para uma noitada. Este é o cenário na boate Super Monkey, localizada no centro de Wuhan, cidade chinesa apontada como berço da pandemia do novo coronavírus. A vida na cidade se tornou um contraste para o resto do mundo – inclusive partes da China – que voltam a conviver com o aumento do número de casos, mortes e regras de confinamento.
Um ano depois da quarentena que isolou a cidade por 76 dias, iniciada em 23 de janeiro de 2020, a metrópole de 11 milhões de habitantes deixou de ser uma “cidade fantasma”. No ano passado, as ruas de Wuhan ficaram desertas e os hospitais cheios de doentes. Hoje, os centros comerciais estão lotados e os engarrafamentos voltaram a ser frequentes.
Apesar da “liberdade recuperada”, nem tudo é como antes. No caso da boate mencionada, por exemplo, o uso de máscara é obrigatório e os seguranças fazem o controle de temperatura dos clientes – quem estiver com mais de 37,3º é proibido de entrar.
Lá dentro, o ambiente é ensurdecedor, com raios laser e fumaça, enquanto os jovens – a maioria na casa dos 20 anos – liberam toda a energia na pista de dança. Outros são meros espectadores, felizes por se reunir em torno de uma mesa e tomar uma bebida, após a quarentena de um ano atrás, quando o que era então um vírus misterioso apareceu.
“Estou preso há dois ou três meses. O país tem enfrentado a epidemia muito bem, agora posso sair com absoluta paz de espírito”, disse Xu, um cliente da boate na casa dos 30 anos.
O ambiente pouco tem a ver com a austeridade oficialmente defendida pelo regime comunista, que tem adotado medidas restritivas duras ao menor sinal de aumento de casos. Em Xangai – uma das principais cidades chinesas, com 25 milhões de habitantes -, um bairro inteiro foi esvaziado após a confirmação de três novos casos da doença nesta quinta-feira, 21.
Nesta sexta, 22, foi a vez de Pequim tomar medidas e lançar uma campanha massiva de testagem após a detecção de alguns casos. Os dois distritos centrais de Dongcheng e Xicheng, onde se encontram a Praça Tiananmen e vários edifícios do governo, anunciaram o plano de testar todos os residentes e trabalhadores – algo em torno de 2 milhões de pessoas – em dois dias.
A reação dura ao detectar novos casos tem dado resultado, pelo menos segundo os dados oficiais. Chen Qiang, um jovem de 20 anos que estava na boate Super Monkey, aprova o controle da epidemia feito pela China apesar dos surtos dos últimos dias. “O governo chinês é bom. O governo chinês faz de tudo pelo seu povo e o povo é supremo. É diferente dos países estrangeiros”, afirmou.
A mídia chinesa cobre em detalhes as dificuldades dos países ocidentais diante da pandemia, que contrasta com o retorno à normalidade na China. Eles veem nesta situação a prova inequívoca da superioridade do modelo autoritário chinês.
Normas desrespeitadas
A autoridade do governo chinês, contudo, não é respeitada em todas as ocasiões. Na boate de Wuhan, ainda que seja obrigatório o uso da másca, nem sempre a regra é cumprida. Muitos dos clientes retiram a proteção para acender cigarros dentro do recinto. Do mesmo modo, nenhuma norma de distanciamento social foi estabelecida.
Segundo Chen Qiang, a pandemia mudou as coisas. “Nas boates há menos gente que antes da pandemia”, constata o jovem, que avalia que as pessoas tem saído e gastado menos.