A sensibilidade política de Eduardo
O simbolismo do marajá e suas mordomias ajudaram a dar um mandato presidencial a Fernando Collor, mas pelo viés da crítica e não da exaltação.
Ele não terminou no cargo, entre outras coisas, por causa de um Fiat Elba, mas foi um candidato arrebatador.
Bonitão, envergava um terno como ninguém e sabia impressionar o eleitorado pelo ineditismo de sua figura lépida, praticante de corrida, cheio de energia para dar e vender.
A favor dos “descamisados” e contra os marajás do funcionalismo público, essas figuras indefectíveis da República, Collor se deu muito bem por algum tempo.
Flagrado em malfeitos com seu então tesoureiro de campanha, achado morto ao lado da amante também assassinada, o castelo do caçador de marajás ruiu, ajudado pelo confisco cambial que tungou as economias de milhões de brasileiros.
Paradoxalmente, nessa imagem do marajá internalizada na população brasileira até nos festejos carnavalescos, é que Eduardo Bolsonaro investiu ao aparecer na foto de Dubai vestido como um xeque dono de clube de futebol.
Não fez por mal, turistas costumam pagar por esses retratos, mas para um político profissional, herdeiro da franquia de sucesso dos Bolsonaros, fez jus à falta de sensibilidade da família, uma doença hereditária ao que parece.
Essa herança genética de estupidez é o legado de imaturidade que no caso de Eduardo flui como sinal de personalidade e é reforçado pela arrogância do clã a que ele pertence.
Não por acaso, no momento em que milhões de brasileiros reviram no lixo o que comer, Eduardo Bolsonaro é o retrato do governo ineficiente e incompetente que não sabe se trabalha ou vai ao cinema.
Eis que o marajá caçado nos tempos de Collor desta vez não será descartado nem por um milhão de Fiat Elba ou outras demonstrações de riqueza e deslumbramento.
E, é claro, com militares às pencas (outro acabou de ser nomeado para a Funai sem nenhuma experiência em índio).
Se conceder o auxílio emergencial R$ 400, cujo anúncio foi cancelado nesta terça-feira, mas ainda pode sair, o rombo do teto de gastos será o mesmo das Arábias.
Foi feito sob medida para desequilibrar as eleições desfavoráveis a Jair Bolsonaro.
Enquanto isso, Al Bananinha tem seu momento Xeque de Agadir.
Se você não se lembra de quem se trata, dá um Google para conhecer grandes momentos dos primórdios das novelas brasileiras.
InshAllah!
Até a eleição
Mesmo sabendo do forte conteúdo eleitoral do auxílio emergencial do governo, que Bolsonaro quer em R$ 400,00 por mês, não deixa de ser alentador que milhões de miseráveis no Brasil tenham algum dinheiro para comer. Entre dezembro deste ano a dezembro de 2022, quando termina, o novo Auxílio Brasil manterá esse valor para 17 milhões de famílias. A fonte são em parte recursos do atual Bolsa Família e o montante extra alcançará R$ 50 bilhões.
Ou isso ou aquilo
O deputado Marcelo Aro (PP-MG), relator da Medida Provisória (MP) do Auxílio Brasil, é de opinião que ampliar o benefício médio para R$ 400 mensais, como deseja o governo, mas somente em 2022, ano de eleições, não é política pública nem aqui e nem na China. Ou seja, se o governo quer combater os efeitos da pobreza, que institua um plano permanente ou trabalhe seriamente em políticas públicas.
Falsa expectativa
Ao Globo, o deputado Marcelo Aro fez o seguinte comentário: “Se você mantém o que é permanente em R$ 189, como é hoje, e faz todo o resto como temporário até dezembro de 2022, você não está resolvendo o problema do cidadão, porque ele vai ter uma falsa expectativa. Você resolve por um ano, mas e depois disso?”. Ele acha que ao criar um programa temporário, não tendo indicação permanente da fonte de custeio, o governo deixa de lado o cidadão e ainda corre o risco de ver o buraco no teto crescer ainda mais. Bidu.
Muito amigo
O terrivelmente evangélico André Mendonça já chegou à caçarola e começa a ser fritado em dendê. Numa reunião que escapuliu para a imprensa, dias atrás, o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, voltou a defender junto ao presidente Jair Bolsonaro o nome do terrivelmente chapa Branca Augusto Aras, Procurador Geral da República, para a vaga deixada por Marco Aurélio Mello no Supremo. O mais surpreendente disso tudo é que, presente ao encontro, Flávio, o filho 01 de Bolsonaro, defendeu a indicação de Alexandre Cordeiro, presidente do Conselho Administrativo de Desenvolvimento Econômico (Cade) para a vaga.
Silêncio
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, ainda espera resposta a uma carta que ela enviou ao ministro-chefe da Administração Geral de Alfândegas da China (GACC) se colocando à disposição para ir até aquele país tratar pessoalmente da retirada da suspensão de vendas de carne bovina aos chineses. É bom avisar à família Bolsonaro para não bater nos chineses por enquanto. Afinal, eles continuam sendo o maior parceiro comercial do Brasil.