13/04/2020 | 00:30
Nunca a frase “tempo, senhor de todas as coisas” fez mais sentido do que agora. Só ele é capaz de frear a grande curva da pandemia do coronavírus se tivermos a calma e a paciência de dar a ele o que ele merece: tempo.
Não será fácil, nem tranquilo, já que não há nada que retarde os efeitos da necessidade e mesmo da fome. Mas é para isso que existem governos, considerado que a tragédia não é só nossa, mas de todos os países do mundo.
Em circunstâncias incomuns como essa, tão importante quanto ganhar tempo é exercitar a união típica de tempos trágicos, quando a humanidade calça as sandálias da humildade e começa a olhar para os lados.
Sabemos disso porque já foi vivido antes em passado recente e não somente durante a crise imobiliária de 2008, iminentemente financeira, ou quebra da Bolsa de NY de 1929, quando fortunas se esfarelaram de um dia para o outro, provocando, por extensão, o sofrimento da classe trabalhadora.
Desta vez, a humanidade foi atingida em cheio em todas as suas qualidades, mas também nos defeitos, que legaram tanta desigualdade social no curso da história.
Neste momento em que o tempo se tornou aliado fundamental contra um inimigo invisível e implacável, o voto popular pelo qual todos lutamos nos últimos anos nos legaram um impasse que atende pelo nome próprio de Jair Messias Bolsonaro.
Munido de um discurso populista, que escora os pés em duas canoas, ele aposta todas as fichas contra o tempo, como se quisesse lavar as mãos de consequências que fatalmente atingirão a economia, mas também as vidas.
Nesse caso, para ele, as vidas e a economia são uma coisa só, já que toda a base de seu discurso se estriba na presunção de que sem trabalho também não há vida, como se os milhares de desempregados brasileiros não existissem antes da pandemia.
Como se os hospitais e escolas deste país também fossem exemplos dos quais nos orgulhássemos e a Covid-19 tivesse acabado com eles.
No lindo mundo de um presidente que, desde a juventude, não soube o que era ganhar a vida fora da segurança do soldo militar e, depois, do salário e mordomias proporcionadas por sucessivos mandatos parlamentares, Jair resolveu que era a hora de proselitar em favor do trabalho duro.
Nada demais se os pressupostos fossem os corretos e não arriscassem a vida de seres humanos diante de uma pandemia que já fez países poderosos caírem de joelhos e cujos exemplos deveriam nos nutrir de informações essenciais para que pudéssemos agir no sentido certo.
Só que não. E, ao desrespeitarmos o tempo, pagaremos caro por isso.