Análise da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que a substituição de produtos brasileiros por importados afetou negativamente a produção da indústria de transformação em 2023. Enquanto houve aumento da demanda por bens de consumo, empresários industriais registraram queda na produção.
Ao mesmo tempo, segundo a Sondagem Industrial da CNI, intensificaram as queixas de competição desleal entre os principais problemas enfrentados pela indústria, cuja assinalação subiu de 16,3% para 20%, e de competição com importados, que saiu de 6,1% para 11,6% na transição de 2022 para 2023.
O levantamento da CNI mostra que houve aumento da demanda por produtos industriais, mas não foi direcionada para a indústria brasileira. Consumidores têm comprado mais produtos importados por conta do preço, mais barato que o dos itens produzidos pela indústria nacional.
“É impossível competir em um ambiente de negócios tão hostil. As taxas de juros elevadas e o sistema tributário impõem uma série de custos para a produção nacional, para os insumos, o bem final e na hora de procurar investir ou inovar. A base industrial também está insatisfeita com a falta de fiscalização e a prática de dumping. Não são questões recentes, mas estão cada vez mais intensas e prejudiciais para indústria brasileira”, explica o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Rafael Lucchesi.
A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do Instituto Brasileiro Geográfico e Estatística (IBGE) e o Indicador Ipea de Consumo Aparente de Bens Industriais mostram que as vendas no comércio varejista e a demanda por bens de consumo cresceram em 2023.
Logo, a questão de demanda interna insuficiente, apontada como um dos principais problemas enfrentados pela indústria em 2023, não pode ser justificada por uma queda no consumo dos brasileiros, mas pela dificuldade de concorrer com os produtos importados.
Setores da indústria com queda da produção e alta de importações em 2023
Sete dos 21 setores da indústria de transformação analisados registraram aumento das importações e, simultaneamente, queda da produção em 2023: madeira; vestuário e acessórios; couro e calçados; metalurgia; produtos diversos; produtos de metal; e móveis.
Quando o período de análise é ampliado para cinco anos, de 2019 a 2023, a proporção de empresas que registraram aumento das importações e queda da produção passa para dois terços dos setores industriais. Portanto, não se trata de um comportamento conjuntural ou particular do ano passado, segundo a CNI.
Para os industriais ouvidos pela CNI, esse processo não deve ser revertido dentro dos próximos cinco anos. Dentre os motivos, estão os baixos preços praticados pelos produtos chineses, que tornam os produtos mais competitivos e contrastam com os custos elevados de produção nacional, inflados pelo Custo Brasil, além das dificuldades relacionadas aos baixos investimentos, atraso tecnológico, dificuldades logísticas e excesso de burocracia.
Em 2023, enquanto houve uma redução de 4,3% na importação de bens intermediários (itens que compõem produtos como elementos elétricos, minerais, têxteis, borrachas, plásticos), em linha com a queda da produção nacional, ao mesmo tempo foi registrado um aumento da importação de 4,8% de bens de consumo (produtos destinados, diretamente, ao consumidor como carros, eletrodomésticos, roupas, calçados, alimentos e medicamentos).
No mesmo período, houve uma queda de 1% da produção industrial; de 2,6% do faturamento real; de 0,7% do número de horas trabalhadas na produção; e um recuo de 1,9 ponto percentual da utilização da capacidade instalada média da indústria de transformação, segundo a pesquisa Indicadores Industriais da CNI.