Pessoas aglomeradas na fila de espera, mesas com papeladas desorganizadas, aplicação de vacina antes da checagem de escala de trabalho ou em profissionais que não se enquadram no grupo prioritário, enfermeiras confusas na hora de preparar fichas e longas esperas para idosos que não foram vacinados, já que não estão no atual grupo prioritário.
Esses são os cenários que marcaram o segundo dia de vacinação contra a Covid-19 em Natal. Mesmo com o reforço nas fiscalizações e com as visitas de equipes do Ministério Público do Rio Grande do Norte nos postos, as falhas aconteceram novamente.
No ponto de vacinação do Shopping Via Direta, na Zona Sul da capital potiguar, o espaço destinado à vacinação de pedestres é em ambiente fechado e a fila formada entre as pessoas que esperavam sua vez causou aglomeração nos corredores do shopping, sem distanciamento mínimo ou outras medidas para minimizar o contato.
No mesmo local, a enfermeira Sandra Varela de Lima, de 50 anos, que trabalha na central de material do Hospital Walfredo Gurgel foi barrada de tomar a vacina, após duas outras companheiras de setor terem sido, minutos antes, imunizadas na frente dela. A enfermeira questionou a situação a uma das coordenadoras presentes no ponto, que imediatamente entrou em contato com a Diretora do Departamento de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Juliana Araújo, para verificar se o setor fazia parte do grupo prioritário. A resposta foi negativa.
Entretanto, Sandra viu as duas amigas, que também não se encaixavam na prioridade, saírem da sala de vacinação com o cartão preenchido com a primeira dose. Apesar desse acontecimento, alguns vacinados presentes no local afirmaram que a checagem de documentos neste ponto foi feita cerca de quatro vezes, em diferentes níveis da espera e por diferentes profissionais.
Já nos pontos drive-thru, o cenário é um pouco mais desordenado. Em visita ao ponto do Palácio dos Esportes, na Zona Leste da cidade, a reportagem do Agora RN flagrou, por duas vezes, enfermeiras aplicando doses da Coronavac antes da checagem dos documentos que comprovassem a atuação na linha de frente. Alguns profissionais presentes estavam confusos na hora de questionar e preparar a ficha com os dados dos vacinados. Foram verificadas também mesas de trabalho com papeis e fichas bagunçadas, sem separação por função ou relevância.
Outro caso registrado foi o de um idoso de 77 anos que afirmou ter passado duas horas na fila de carros, achando que seria vacinado. Somente quando chegou ao ponto, foi informado pela equipe presente no local que idosos ainda não estão aptos para receberem as doses. Sebastião José da Silva questionou o fato de não ter um fiscal de enfermagem andando na fila para detectar esses casos e avisar as pessoas antecipadamente.
“Fiquei esse tempo todo na fila. Desde às 8h esperando e só foram me avisar que idosos acima de 75 não poderiam tomar quando chegou minha vez”, relatou. Juliana Araújo, da SMS, argumentou que é humanamente impossível chegar em todos os carros, devido ao tamanho da fila, e inibir todas as falhas. Ainda reforçou à população que se informe diariamente sobre o processo de vacinação e pediu aos profissionais de saúde que hajam de boa fé ao buscar a imunização.
“Nós gostaríamos de poder vacinar a todos nesse momento, mas infelizmente só recebemos um terço das doses previstas, então tivemos que racionar o que já estava racionado. Pedimos a população que procure informações oficiais antes de se dirigir aos pontos, e aos profissionais de saúde que tenham boa fé e respeitem o grupo prioritário. Sem querer tirar vantagem da situação”, reforçou.
Neste primeiro momento, só receberão a primeira dose da imunização profissionais que atuam na linha de frente de combate ao coronavírus, com vínculo comprovado. Estes profissionais devem se dirigir ao local de vacinação munidos de documento de identificação com foto e escala de trabalho assinado pelo supervisor da unidade de saúde.
Após as denúncias de irregularidades e pessoas “furando a fila” nesta quarta 20, os profissionais de saúde começaram a assinar uma declaração de que as documentações apresentadas à equipe de vacinação são verdadeiras. O Ministério Público do Rio Grande do Norte está recebendo denúncias de crimes ou falhas no processo de imunização através do Disque Denúncia 127 ou mensagem de Whatsapp para o número (84) 98863-4585.
Público a ser vacinado
Todos os profissionais de saúde que estão atuando na linha de frente do combate ao coronavírus das seguintes unidades:
- UPAs
- Hospital Giselda Trigueiro
- Hospital de Campanha
- Pronto Atendimento Odontológico Morton Mariz
- Maternidades públicas e privadas
- Prontos-socorros públicos e privados
- UTIs e os Centros Covid de Natal
Nas seguintes unidades, somente serão vacinados os profissionais que atuam diretamente no atendimento ao paciente com Covid-19:
- Hospital Universitário Onofre Lopes
- Hospital Maria Alice
- Hospital de Pediatria Nivaldo Júnior
- Hospital João Machado
- No caso do Samu/Transporte sanitário, serão vacinados os servidores intervencionistas.