O Brasil vivencia uma situação inédita: possui o maior contingente de jovens em sua história. Paralelo a isso, há uma crescente crise de saúde mental nessa população. Especialistas apontam que o fenômeno complexo está ligado ao crescente destaque das mídias sociais, que recentemente foram apontadas pela principal autoridade de saúde pública dos EUA como potenciais gatilhos para problemas de saúde mental, algo antes reservado a questões como tabagismo e obesidade.
As mídias sociais, que se tornaram uma constante na vida dos jovens, trazem benefícios e desafios. Pesquisas no Brasil e no mundo mostram o agravamento da saúde mental entre adolescentes, antes mesmo da pandemia. A preocupação com o impacto da tecnologia na juventude não é nova, com televisão e videogames tendo sido alvos de escrutínio nas últimas décadas.
No debate atual, devemos considerar que a inovação tecnológica avança mais rápido do que as pesquisas sobre seus impactos. As redes sociais, inicialmente voltadas para conexões sociais, transformaram-se em mídias sociais dominadas por algoritmos com objetivos comerciais. A maioria dos estudos ainda avalia o tempo geral de uso de telas, e há uma distinção importante entre correlação e causalidade, com evidências de que adolescentes com transtornos mentais podem usar mais as mídias sociais.
No entanto, há um volume crescente de evidências de que as mídias sociais podem ter efeitos nocivos em alguns jovens. Paralelamente, é preciso reconhecer os potenciais efeitos positivos dessas ferramentas, como o apoio que podem oferecer a adolescentes LGBTQIA+. O desafio é que não existe uma solução única: enquanto muitos jovens não apresentam problemas, não podemos ignorar aqueles que são afetados.
Diante dessa complexidade, como abordar o uso de mídias sociais por jovens? Uma proibição simples parece inviável, mas discussões sobre idade mínima são pertinentes. É necessário promover a alfabetização digital nas escolas e encorajar pais a dialogarem sobre os aspectos positivos e negativos das mídias sociais.
Mas, não se pode deixar essa responsabilidade apenas nas mãos das famílias. É essencial o envolvimento de toda a sociedade, incluindo as empresas de tecnologia.
Evitar narrativas simplistas é crucial para entender esse fenômeno. As lacunas no conhecimento atual não devem justificar a inação. Com quase 50 milhões de jovens, o Brasil está diante de uma oportunidade histórica com impactos nas próximas gerações.