O procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT), Gleydson Gadelha, trouxe à tona uma preocupante realidade no estado do Rio Grande do Norte, nesta sexta-feira, 4. Segundo ele, o estado tem sido identificado como um importante fornecedor de mão de obra para condições precárias de trabalho, incluindo o tráfico humano e a escravidão.
“Por parecer tão fora da nossa realidade, se proliferam nos meios e pessoas que você nem imagina. O Rio Grande do Norte é um grande fornecedor para o tráfico de pessoas, principalmente na modalidade de trabalho escravo”, afirmou Gleydson, ao programa RN no Ar, da TV Tropical.
Trabalho análogo a escravidão: Gadelha explicou método de captar vítimas pelas redes sociais - Foto: José Aldenir/Agora RN
Gadelha destacou que o tráfico de pessoas é um crime complexo, abrangendo diversas formas de exploração, como exploração sexual, casamento civil forçado e retirada de órgãos, enfatizando a brutalidade envolvida. Além disso, chamou a atenção para o trabalho análogo ao escravo, que também se enquadra nesse cenário.
De acordo com o procurador, os traficantes se utilizam de vários artifícios para captar suas vítimas, incluindo o uso das redes sociais para iludir e enganar pessoas com promessas de empregos vantajosos e condições de trabalho inimagináveis.
Um aspecto preocupante abordado por Gadelha foi o aumento do tráfico internacional de pessoas nos últimos anos, resultando em um cenário que preocupa as autoridades. Ele ressaltou que os traficantes, conhecidos como “gatos” têm se aproveitado da vulnerabilidade de trabalhadores em pequenas comunidades e áreas remotas, para cooptá-los, levando-os a situações de exploração.
O procurador ressaltou que é comum encontrar conterrâneos potiguares em situações análogas à escravidão, trabalhando em condições degradantes em outras regiões do país. Muitos deles são iludidos por conhecidos que os levam a trabalhar em outras localidades sem remuneração adequada.
“A gente encontra centenas de vezes, um norte-rio-grandense, por exemplo, daqui de São Gonçalo trabalhando na terra do meio no estado do Pará. E quando se houve a história, ele conta: um amigo me procurou e me levou. Aí ele está lá há 5 meses no meio do mato e sem receber salário. Essa é uma história muito comum e triste”, disse.
Trabalho infantil
Além do tráfico humano, o procurador também abordou a triste realidade do trabalho infantil. Segundo ele, muitas vezes as famílias acabam se encontrando nesse cenário e precisam contribuir com todos os meios possíveis de subsistência, inclusive com a utilização de crianças.
“Criança é um estágio ainda mais delicado porque muitas vezes elas são levadas como estruturas de apoio do pai e da família. O pai é cooptado e leva a família inteira. Então, infelizmente é comum encontrarmos em vários lugares, não só no RN. Muitas crianças deixam de estudar, entram mais cedo no mundo do trabalho, se lesionam e perdem a condição de se desenvolver devido a estarem com os pais.”
O trabalho infantil, segundo ele, não é exclusivo do meio rural, ocorrendo também em áreas urbanas, onde crianças são exploradas em sinais de trânsito e até mesmo dentro de supermercados, em práticas organizadas.
“Há também os casos que nós conhecemos, que são da exploração do trabalho da criança no meio urbano. Nós vemos as crianças em sinais, dentro do supermercado pedindo. Existem vários inquéritos, tanto no MPT e quanto na promotoria comum, que investiga casos de organizações que se utilizam da força das crianças e desse apelo para angariar valores”