Divulgada na última quinta-feira 27 pelo jornal AGORA RN, a pesquisa realizada pelo Instituto EXATUS revelou que 60,86% dos passageiros estão insatisfeitos com o transporte público em Natal, de forma geral. Procurados pela reportagem, pré-candidatos à Prefeitura de Natal criticaram a retirada de linhas durante e pós-pandemia. Além disso, eles condenaram a falta de licitação.
Pré-candidato pelo Avante, o ex-deputado federal Rafael Motta acredita que a situação do transporte público de Natal vem se deteriorando há anos. “Veículos precários para uma tarifa das mais altas do Nordeste. Da pandemia para cá, a situação se agravou com a retirada de linhas e rotas enfraquecidas, o que tem prejudicado o dia a dia dos natalenses que dependem do transporte na cidade”, frisou.
Ele também apontou que o estudo do EXATUS acendeu alerta acerca dos atrasos das viagens. “Prejudica quem precisa se deslocar de casa para o trabalho. Se você tem que pegar no serviço às 7h, tem que madrugar nas paradas para conseguir uma condução e chegar no horário, o que não é justo com a população, além de perigoso também. Exemplo é o pessoal da Zona Norte e as obras em andamento”.
Para Rafael Motta, é essencial buscar inovação para a mobilidade. “Trazer cases de sucesso que já são aplicados em outras cidades, logicamente, adequando para a nossa realidade. App de monitoramento de rotas para que a população saiba a hora que o ônibus vai passar, uma secretaria voltada para tecnologia e informação que aborde estratégias de mobilidade, entre outras ações mais simples ou mais complexas”, pontuou.
Ele ainda cobrou a licitação do transporte. “Precisamos compreender de forma detalhada as razões que tanto impedem o processo de licitação acontecer. O que não podemos é deixar o transporte como está, onde quem mais sofre é o natalense”.
A Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (STTU) havia prometido a licitação para o fim de 2023, mas ainda não houve avanço. A licitação define as regras de operação para as empresas, que atualmente têm uma permissão precária para operar. Além de não ter regras bem definidas, as empresas também não têm garantia de equilíbrio econômico-financeiro.
Deputada federal e pré-candidata à Prefeitura de Natal, Natália Bonavides afirmou que o resultado da pesquisa é um “reflexo” do que os passageiros enfrentam na capital. “Frota insuficiente, falta de cobertura nas comunidades, longas esperas nas paradas e nenhum compromisso com o cumprimento dos horários. O direito ao transporte moderno e de qualidade é fundamental para garantir outros direitos, como o dos trabalhadores de terem meios alternativos para ir ao trabalho, o dos estudantes de irem às aulas e também o próprio direito à cidade e ao lazer”.
Como parlamentar, Natália Bonavides diz que tem focado na questão ao cobrar a licitação. “Eu, pessoalmente, acompanho o problema dos ônibus de Natal desde quando ainda era estudante. Naquela época, já lutávamos pela realização da licitação dos transportes da capital, que nunca aconteceu. De lá para cá, a situação só se agravou”, observou.
Para ela, Natal precisa de um transporte público fortalecido, que atenda às demandas dos usuários e também dos operadores do serviço. “Precisamos que a licitação saia do papel, para aí termos uma regulamentação e integração do transporte, com a ampliação da rede, melhoria da frota e das condições de locomoção da população pela cidade. Não dá para encarar como normal a espera que se tem hoje nas paradas de ônibus e a situação de vários bairros onde sequer o transporte passa. Além disso, é possível discutir e procurar meios para implementar tarifa zero em Natal”.
Pré-candidato pelo PSTU, Nando Poeta ressalta que há uma crise no transporte público. “Entra prefeito, sai prefeito, e o transporte continua sendo tratado como fonte de lucro para meia dúzia de empresários, ao invés de ser assumido pelo Município como um direito público essencial da população”, analisou.
Nando Poeta teceu críticas ao Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos (Seturn). “Em Natal, o sistema de ônibus é controlado há décadas pelo Seturn. Esse grupo empresarial opera sem licitação, impondo ao povo um péssimo serviço de transporte, com ônibus velhos, frota insuficiente e tarifa com preços altos. O Seturn retira linhas, descumpre ordem judicial, faz o que quer na cidade, e nada acontece, tudo com a conivência da Prefeitura e da maioria da Câmara. Esses empresários devem cerca de R$ 160 milhões em multas, taxas e impostos, e ainda querem subsídios, como se não bastassem a isenção absurda de ISS e ICMS que o prefeito e a governadora deram. Nenhuma licitação vai resolver o problema se não expulsar o Seturn do sistema”.
O pré-candidato defende uma unidade entre os sistemas de transporte. “É necessário municipalizar todo o serviço e investir no avanço de um sistema integrado, com trens, VLTs, ônibus e ciclovias. Nós defendemos que é preciso cobrar e executar toda a dívida milionária das empresas de ônibus e utilizar os recursos para criar uma empresa pública de transporte em Natal”.
Carlos Eduardo e Paulinho Freire silenciam
O AGORA RN também questionou os pré-candidatos Carlos Eduardo Alves (PSD) e Paulinho Freire (União Brasil) acerca da pesquisa sobre a satisfação dos passageiros do transporte público. Carlos Eduardo disse que só vai se manifestar quando terminar de elaborar seu plano de governo. Já Paulinho Freire não se manifestou.
Carlos Eduardo foi prefeito de Natal por quatro mandatos, tendo deixado a gestão municipal em 2018 para disputar as eleições para governador do Estado. Quem assumiu foi o então vice-prefeito, Álvaro Dias (Republicanos). Já Paulinho Freire foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Natal por seis vezes. Ele deixou o cargo para assumir o mandato como deputado federal em 2023.
PESQUISA. O Instituto EXATUS entrevistou 603 usuários do transporte em todas as regiões da capital potiguar. Segundo a pesquisa, 60,86% dos entrevistados estão insatisfeitos com o transporte público na cidade, de forma geral. Os usuários avaliaram aspectos como pontualidade dos ônibus, cobertura das linhas e limpeza.
