O PSDB chega rachado às prévias deste domingo (21) para a escolha do candidato tucano que disputará a eleição para Presidência da República em 2022. Há três nomes na jogada, o do ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio e o dos governadores de São Paulo e do Rio Grande do Sul, João Doria e Eduardo Leite, respectivamente. Os governadores são os principais expoentes da disputa interna.
Embora os dois lados projetem vitória, a briga está acirrada o suficiente para que nenhum deles afirme ter a garantia do resultado. Isso porque, como integrantes do mesmo partido, Leite e Doria apresentam semelhanças na administração de seus respectivos estados, mas se diferem no estilo político.
Um é tratado por aliados como “pacificador e agregador”, que pode unir esforços mais facilmente para viabilizar uma alternativa de centro e acabar com a “polarização”. O outro, como “disruptivo e claro em suas posições”, que pode reproduzir políticas adotadas no maior estado do país para o Brasil inteiro e mudar o estilo de gestão.
A campanha de Doria tem sido focada em destacar seus feitos como governador de São Paulo, em especial no que se refere a crescimento econômico, educação e, principalmente, à compra da vacina Coronavac.
“João vacinador, João trabalhador”, diz o jingle do pré-candidato. Em seus discursos e debates, o paulista diz querer levar o trabalho feito em São Paulo para todo o país, e não economiza em críticas diretas a opositores, como o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Lula (PT).
Leite, por sua vez, também exalta seus feitos como governador do Rio Grande do Sul, como a reestruturação das contas públicas e os programas sociais. “Tá chegando a novidade que vem do Sul do país, um cara sério e diferente”, ouve-se em seu jingle.
O gaúcho, porém, evita fazer críticas diretas a Lula e Bolsonaro, costuma falar em “olhar para o que o país pode ser”, em vez de olhar para o que ele vem sendo ou já foi. E prega a união: diz que não quer ser um terceiro polo de radicalização, quer ser a “melhor via”.
Paulo Serra, prefeito de Santo André e um dos articuladores da campanha de Leite, diz que a principal diferença do gaúcho é “a capacidade que ele tem de agregar”. “É o estilo pacificador, esta capacidade que, na prática, pode fazer com que a gente consiga unir as alternativas que temos hoje colocadas nas forças políticas para enfrentar um momento muito radicalizado de dois extremos”, afirma.
“No momento polarizado que a gente vive, na minha opinião e na opinião da maioria, a sociedade quer uma pacificação, um país que precisa de novo de estabilidade, de tranquilidade, e não tem nenhum candidato melhor que o Eduardo nesse sentido”, acrescenta.
Já Marco Vinholi, presidente do PSDB-SP e um dos principais líderes da campanha de Doria, acredita que um dos fatores a favor do governador é que “ao longo de sua carreira, ainda que curta, tem sido alguém disruptivo dentro da política brasileira”, e destaca seu papel como “gestor competente”.
“Ele conseguiu avançar como prefeito de São Paulo fazendo uma grande mudança nos paradigmas da capital e no governo do estado, da mesma forma, tem avançado frente a tudo o que o país passou, seja através da recuperação econômica ou na questão da vacina, de fato salvando milhares de vidas no país, e implementando uma série de políticas inovadoras aqui em São Paulo”, diz.
Apoios
A capacidade de agregar, por enquanto, é posta à prova no âmbito interno, e os dois lados disputam o respaldo de grandes caciques do partido.
Eduardo Leite tem o apoio informal do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, do deputado federal Aécio Neves e é endossado por um número maior de diretórios estaduais.
João Doria tem o apoio oficial do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que já gravou vídeos em seu favor e, na última quarta-feira (17/11), conquistou também o suporte do senador licenciado José Serra.
Pela regra das prévias, os votos de filiados e ocupantes de cargos políticos têm pesos diferentes, portanto, os dois candidatos estão confiantes da vitória. Dentre os filiados não ocupantes de cargos, a expectativa é que Doria vença – já que São Paulo é o estado com maior número de membros do partido. Esse grupo representa 25% dos votos.
Mas quando considerada a relação de deputados federais e estaduais, prefeitos e vereadores, por exemplo, Eduardo Leite conta com maior apoio em alguns estados, o que pode lhe favorecer. Como os votos são contabilizados de formas diferentes a depender de quem vota, nenhum lado projeta uma vitória com muita folga.
Paulo Serra diz que Leite tem a capacidade de “unir o partido e, depois, de unir o Brasil”, e diz que não está em discussão a capacidade de gestão dos candidatos, porque isso “é uma marca do PSDB, e nós temos bons quadros”. Ele ainda pondera que é “muito difícil comparar São Paulo com Rio Grande do Sul nos momentos que os estados estão vivendo, portanto, a discussão sobre gestão seria muito subjetiva”.
Vinholi diz que Doria tem experiência para atender as necessidades do país de “retomar a economia, resgatar o desenvolvimento do Brasil, diminuir a inflação, aumentar o crescimento e distribuir renda” e que ele é capaz de agregar diversos lados.
“Os apoios falam por si, não dá para ser agregador no discurso e, na prática, não corresponder com isso. O Doria, apesar de não ser um político palatável ao poder, não quer ser alguém que se adéque às suas posições de acordo com a ocasião para agradar político A ou B, é alguém que tem posição clara, transparente, mas que dentro destas convicções faz a construção coletiva”, afirma.
Carreiras
Com 37 anos, Leite é formado em direito e iniciou cedo na política. Em 2001, filiou-se ao PSDB e desde 2004 disputa cargos públicos. Primeiro, foi vereador, em 2012 se elegeu prefeito de Pelotas e, em 2018 venceu a eleição para comandar o Palácio Piratini.
A jovialidade de Leite é um fator visto como positivo por seus aliados, pois reforça o senso de “novidade” e “diferente” na política nacional que permeia sua campanha. Governador de um estado no extremo sul do país, é menos conhecido do que Doria – o que, para apoiadores, também é algo positivo, pois avaliam que sua imagem está menos desgastada.
Nos últimos debates entre os candidatos do PSDB, o gaúcho faz questão de alfinetar Doria citando pesquisas sobre sua rejeição, que é de 59%, segundo pesquisa do PoderData, do portal Poder 360 – enquanto a de Leite é de 54%.
Já Doria tem 63 anos, formou-se em comunicação social e tem longa experiência na iniciativa privada – atuou como publicitário, jornalista, apresentador e empresário – e seu ingresso na política foi tardio. Seus aliados gostam de salientar as passagens por empresas privadas para destacá-lo como “experiente gestor”.
Apesar de ter ocupado cargos na administração pública no governo paulista do tucano Franco Montoro, na década de 1980, só entrou na política efetivamente em 2016, quando se candidatou à Prefeitura de São Paulo – e ganhou. Mas seu mandato acabou 15 meses depois, quando ele deixou o comando da capital para concorrer ao governo do estado, que também venceu.
Antes de se candidatar nas duas eleições que disputou, Doria teve de passar pelas prévias do PSDB paulista, inaugurando o procedimento que agora será adotado nacionalmente pela primeira vez. Ter vencido as competições internas é motivo de orgulho para o tucano, que repete ser “filho das prévias” em seus discursos e ressalta o fato de ter ganhado todas as eleições as quais disputou.