Dois operários saindo de uma obra, conversavam:
– Imagine aí eu ganhando na Mega-Sena.
– Eita! O que você faria primeiro?
– Ah… eu comprava um carro novo.
– Boa! E você me levava nesse carro?
– Sim. Mas limpe os pés.
– Ei, calma! Você ainda não ganhou…
– Desça, desça…
Lembrei dessa anedota quando vi a discussão sobre a construção de novos portos no Rio Grande do Norte. O ‘Porto Potengi’, na margem oposta ao porto atual no nosso rio grande; e o ‘Porto Verde’ em Caiçara do Norte. Estamos discutindo – e já com disputas renhidas, sobre planos de estruturas portuárias até aqui apenas sonhadas. Obras gigantescas que custam bilhões e que fatalmente não estariam no nosso horizonte realista para esta década, quiçá para a próxima.
Enquanto isso, temos demandas mais prementes e mais alcançáveis para resolver na nossa infraestrutura – recuperar as estradas, fazer funcionar o Terminal Pesqueiro, duplicar a BR para Mossoró, o acesso a Guamaré, fazer a estrada parque da Pipa, resolver os aeroportos regionais, recuperar ferrovias e instalar um recinto especial aduaneiro no entorno do aeroporto de São Gonçalo do Amarante -, para ficarmos em alguns exemplos.
Isso faz sentido?
Faria todo sentido se não fosse um fato da vida: sonhar grande é permitido e é bom! Estudar e projetar novos portos, é ótimo. Nosso estado tem a logística como uma de suas vocações. Estamos na esquina do continente. Quando o país investiu em grandes portos no Nordeste, ficamos de fora. Mesmo tendo melhor localização. Pernambuco e Ceará foram contemplados com Suape e Pecem. Por que? Primeiro, política: Pernambuco tinha o vice-presidente da república, Marco Maciel, e o Ceará era governado pelo presidente do partido do Presidente da República, Tasso Jereissati; Segundo, porque eles tinham projetos. Nós, não.
Os dois portos sonhados, ou melhor, estudados para o RN, não devem conflitar. O Verde é um terminal de apoio a eólica offshore e hidrogênio com retroárea para instalação dessas indústrias. O Potengi é um porto multifinalitário.
Ter projetos, estudar opções é sempre válido. Vai que surgem oportunidades, no caso, algum fundo árabe ou um plano como o chinês ‘Cinturão e Rota’ – que constrói o grande porto de Chancay no Peru – e resolve nos incluir em sua rota de expansão. Já teremos projetos. Teremos feito nosso dever de casa.
A corrida mundial por fontes limpas de energia está colocando o nosso Rio Grande do Norte no radar de grandes investidores e precisamos estar preparados, ter projetos, para embarcar nas primeiras cabines dessa nova onda. “Adelante”.
*Vagner Araujo é ex-secretário de Finanças do RN