01/11/2023 | 05:00
Há algumas semanas, compartilhei no Instagram do @blogdodina um comentário sobre como percebi mudanças em minha sexualidade, notando uma atração por mulheres e como isso tem me afetado. Esse comentário foi feito com a intenção de tocar pessoas que se questionam sobre quem são ou que estão, incentivando-as a se aceitar.
A psicologia nos mostra que o medo da rejeição é uma das experiências humanas mais comuns e desafiadoras. O pertencimento é uma necessidade fundamental do ser humano, e ser aceito por um grupo é crucial para nossa sobrevivência emocional e psicológica. Quando percebemos uma mudança em nós mesmos que pode nos afastar do grupo ao qual pertencemos, é natural sentir medo e ansiedade.
Tenho percebido um desconforto em muitas pessoas por sentirem a necessidade de me encaixar num rótulo etiquetado. Este tem sido um dos momentos mais desafiadores da minha jornada, especialmente porque existe uma percepção generalizada de que as pessoas não lidam bem com mudanças de rótulo.
“Ele não sabe o que quer?”, “Não existe ex-gay”, “Agora você está do lado certo” são comentários que ouvi e que dizem muito sobre muitas coisas, menos sobre mim. Esses rótulos e expectativas sociais podem ser restritivos e limitantes, ignorando a complexidade e a fluidez da identidade e da sexualidade humana.
Mantive essas transformações íntimas comigo por medo de rejeição. Todo mundo quer pertencer a algum lugar. Ser conhecido apenas como gay era seguro e fazia parte da minha personalidade. Mas eu não estou deixando de ser quem eu era. Estou evoluindo para ser quem eu sou.
A jornada para se aceitar e se entender pode ser um processo longo e complicado, mas é uma jornada necessária para a nossa saúde mental e emocional. Talvez esse seja o ponto de desconforto: a transparência com que mergulho em mim mesmo. Expor tão publicamente o que coloquei embaixo do tapete obriga quem me vê fazendo isso a visitar o que está escondendo embaixo do seu. E isso é desconfortável.
É disso que resulta a necessidade de rotular, de criticar, de atacar. Acredito que a incompreensão extravasada sobre a exposição de minha sexualidade é, em verdade, uma forma de lidar com o que está embaixo do seu tapete e que não foi resolvido.
Estou me permitindo explorar e entender minha sexualidade, sem medo de rótulos ou expectativas sociais. Estou aprendendo que está tudo bem em mudar e evoluir, e que isso não me faz menos válido ou autêntico. E se uma pessoa tiver sido ajudada, apesar das outras 99, terá valido a pena.
*Dinarte Assunção é jornalista.