Recentemente, o caos no trânsito causado pelas obras de recuperação da ponte de Igapó trouxe à tona uma realidade incômoda e recorrente: a Zona Norte de Natal parece ser uma constante secundária nas prioridades urbanísticas e de infraestrutura da cidade. Essa situação impacta diretamente cerca de 350.000 habitantes, que enfrentam desafios diários de mobilidade e acesso.
Ao longo dos anos, é notável a discrepância entre o tratamento dado às diferentes regiões de Natal. Enquanto projetos para a Zona Sul avançam com rapidez e eficiência, a Zona Norte sofre com a lentidão e, por vezes, o total esquecimento. Esta diferença não é apenas uma questão de logística ou recursos, mas reflete um preconceito enraizado e uma negligência histórica.

Neste episódio específico, documentos obtidos pelo Blog do Dina revelam que o DNIT ignorou recomendações técnicas que ofereciam alternativas menos impactantes para a instalação do canteiro de obras da ponte de Igapó. A escolha de levar adiante uma opção mais disruptiva, bloqueando a principal artéria de tráfego entre as zonas Norte e Sul, é sintomática dessa desconsideração.
O impacto dessa decisão se reflete não apenas no trânsito caótico, mas também no dia a dia dos moradores. O trajeto, que já era desafiador, tornou-se um verdadeiro teste de paciência e resistência, exacerbando as desigualdades já existentes.
Mais alarmante ainda é a aparente desconsideração das recomendações das Coordenações de Estudos e Projetos Ambientais e de Meio Ambiente. A falta de diálogo e a precipitação na execução da obra revelam uma falha grave na gestão pública, onde a eficiência e o bem-estar da população deveriam ser a máxima prioridade.
O cenário atual na Zona Norte de Natal é um espelho de uma realidade mais ampla, onde regiões menos favorecidas são frequentemente negligenciadas. É um lembrete de que a infraestrutura urbana e as decisões de planejamento não devem ser apenas sobre concreto e asfalto, mas sobre pessoas e suas vidas.
A pergunta que permanece é: até quando a Zona Norte será tratada como um apêndice e não como uma parte integral e vital de Natal? É hora de repensar e reestruturar nossa abordagem para garantir que todas as regiões da cidade recebam a atenção e os recursos que merecem. A equidade nas decisões de infraestrutura não é apenas uma questão de justiça, mas um imperativo para o desenvolvimento harmonioso e sustentável da cidade como um todo.
*Dinarte Assunção é jornalista