17/09/2021 | 16:25
Na noite da última quinta-feira, apesar do paletó e gravata, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, estava à vontade na biblioteca do Palácio da Alvorada. Chamado para participar com o presidente Jair Bolsonaro na live semanal transmitida por rede social, o ministro, além da defesa da suspensão de vacinas para adolescentes que não apresentem comorbidades, fez ironias, deboches e críticas. Entre risadas, falou de Coronavac, do uso obrigatório de máscara, de medicação para disfunção erétil e até lembrou o “jacaré”, se referindo à declaração do presidente sobre o risco de alguém virar animal se tomasse vacina.
Na transmissão, brincando com o presidente, Queiroga olhou o resultado de um exame de Bolsonaro de anticorpos para Covid-19 e diagnosticou:
— O senhor está bem, mas o senhor precisa se vacinar.
Bolsonaro tem evitado tomar a vacina e repetiu no encontro com o ministro que vai esperar o último brasileiro se vacinar para só então decidir o que fará. A postura pública do presidente segue na contramão de outros líderes mundiais que já se vacinaram e tornaram o gesto público.
Espelhando-se no espírito do presidente, Queiroga concordava com as declarações de Bolsonaro e as complementava. O presidente atacou a Coronavac diversas vezes, e disse que a vacina do Instituto Butantan não tem tanta efetividade. Perguntado por Bolsonaro qual vacina tomou, o ministro respondeu rindo:
— Tomei aquela vacina. Aquela do vírus inativado (a Coronavac).
Em outro momento, quando o presidente dizia que tomou muita “pancada” nessa pandemia pelas declarações e decisões que tomou, o ministro lembrou da declaração de Bolsonaro sobre o risco de alguém virar jacaré após se imunizar. Sempre entre risadas.
— O senhor sempre advertiu muito sobre a questão da segurança. Lembra da história do jacaré? O jacaré nada mais é que uma advertência acerca da segurança — disse Queiroga.
— Usei uma figura de linguagem, uma hipérbole. Era uma brincadeira. Pode até virar outro bichinho — afirmou Bolsonaro.
Bolsonaro cobrou do ministro a nota técnica que irá liberar “brevemente”, segundo o presidente, o uso de máscara no paíss
— A partir do momento que o cenário melhore – disse Queiroga, que contou uma história de um encontro dele com o diretor Tedros Adhanon, da Organização Mundial da Saúde (OMS), recente, na Itália. Eles estavam num terraço, num lugar aberto, e que o dirigente da OMS disse a ele não haver necessidade do uso da máscara naquele local.
— Quem quiser usar máscara, use. Essa mania de querer criar lei para tudo — comentou o ministro.
Até piada sobre disfunção erétil foi tema da live. Bolsonaro perguntou a Queiroga se tem medicamento que é descoberto sem querer. O ministro disse que sim, e citou o antibiótico e a penicilina.
— E disfunção erétil? Também? — perguntou o presidente.
— Esse medicamento foi usado com outra finalidade. E é da Pfizer, viu presidente — respondeu o ministro, se referindo ao Viagra.
Na live, Queiroga listou ações adotadas como a distribuição de mais de 260 milhões de doses, das quais 211 milhões já foram aplicadas nos braços dos brasileiros. E nas parcerias com laboratórios, o país tem assegurado mais de 500 milhões de doses. Apesar das críticas, o ministro disse ao presidente que as vacinas têm garantido a redução de óbitos e de internações.
No final, Queiroga foi perguntado se iria vacinar o presidente. Ele respondeu não ser médico de Bolsonaro:
— O presidente defende a autonomia do médico. Não sou médico dele, mas ele deve tomar a vacina na hora certa. Ele já disse ser ‘imorrível’, mas não sei se é ‘invacinável’.