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Medida
Parler, rede social usada por trumpistas, sai do ar após Google, Apple e Amazon banirem aplicativo
O site de rastreamento mostrou a rede Parler desativada pouco depois da meia-noite (5h em Brasília), o que sugere que seus donos não conseguiram um novo provedor de serviço
Estadão
11/01/2021 | 12:30

A rede social conservadora Parler saiu do ar nesta segunda-feira, 11, após a Amazon banir a empresa do acesso a seus servidores por ser “incapaz de moderar as mensagens incitando a violência”.

O site de rastreamento de Internet Down For Everyone Or Just Me mostrou a rede Parler desativada pouco depois da meia-noite (5h em Brasília), o que sugere que seus donos não conseguiram nenhum outro provedor de serviço.

Parler, cuja popularidade disparou nas últimas semanas, tornou-se um refúgio para alguns internautas indignados com a política de moderação de redes sociais como o Twitter, que encerrou a conta de Donald Trump em definitivo, na última sexta-feira.

Na rede conservadora, foram divulgadas mensagens de apoio aos que invadiram o Congresso. Algumas delas também convocaram a realização de novos protestos contra o resultado da eleição presidencial de novembro, vencida pelo democrata Joe Biden.

O Parler se apresenta como uma alternativa de “liberdade de expressão” ao Twitter e virou a favorita da base mais radical do presidente americano Donald Trump. Neste fim de semana, antes do anúncio da Amazon, o presidente Jair Bolsonaro convidou seus seguidores no Twitter a o seguirem também no Parler. O mesmo foi feito por seu chanceler, Ernesto Araújo, e pelo assessor internacional do Planalto, Filipe Martins. Todos os três, no entanto, continuam ativos no Twitter.

Nos últimos meses, o Parler se tornou um dos aplicativos de crescimento mais rápido nos Estados Unidos. Milhões de partidários de Trump recorreram a ele à medida que o Facebook e o Twitter assinalavam cada vez mais as postagens do próprio presidente e de seus apoiadores que espalhavam desinformação e incitavam a violência.

Primeiro, a Apple e o Google o removeram de suas lojas de aplicativos alegando que a plataforma não havia monitorado suficientemente as postagens de seus usuários, permitindo muitas que incentivam a violência e o crime. Então, no final do sábado, a Amazon disse ao Parler que tiraria a empresa de seu serviço de hospedagem na web na noite deste domingo devido a repetidas violações de suas regras.

Na sexta-feira, o Parler parecia pronto para capitalizar a raiva crescente nos círculos da direita em relação às grandes empresas de tecnologia, e era uma escolha lógica para se tornar o próximo megafone de Trump depois que ele foi banido do Twitter. Agora seu futuro parece sombrio.

‘Esforço coordenado’

Em um comunicado, o presidente-executivo da empresa, John Matze, acusou as gigantes do Vale do Silício de agirem em um “esforço coordenado” para “remover completamente a liberdade de expressão da internet”. Ele disse ainda crer que que a plataforma ficará fora do ar por cerca de uma semana, a partir da meia-noite deste domingo, até que encontre um novo serviço de hospedagem.

Em uma carta ao Parler na noite de sábado, a Amazon disse que enviou à empresa 98 exemplos de postagens em seu site que incentivam a violência e que muitos permaneceram ativos.

“Está claro que o Parler não tem um processo eficaz para cumprir as regras da Amazon”, afirmou a empresa na carta. A Amazon “fornece tecnologia e serviços a clientes em todo o espectro político e continuamos a respeitar o direito do Parler de determinar por si mesmo que conteúdo permitirá em seu site. No entanto, não podemos fornecer serviços a um cliente que é incapaz de identificar e remover com eficácia o conteúdo que incentiva ou incita a violência contra outras pessoas”.

Na sexta-feira, a Apple havia dado ao Parler 24 horas para limpar seu aplicativo ou removê-lo da App Store. No sábado, a Apple disse à empresa que suas medidas eram inadequadas e que, apesar de apoiar os mais diversos pontos de vista em suas plataformas, “não há lugar para ameaças de violência e atividades ilegais”.

Distração para republicanos

As ações contra o Parler foram parte de uma ofensiva mais ampla das empresas de tecnologia contra o presidente Trump e alguns de seus partidários mais radicais após a invasão ao Congresso para tentar barrar a homologação da vitória de Joe Biden, no dia 6 de janeiro, a última quarta-feira.

Se por um lado a medida limita o alcance da retórica do presidente, por outro serve como uma bem-vinda distração para republicanos que temem condenar o presidente por seu papel nos eventos da semana passada. Para a base, as empresas do Vale do Silício tornam-se ainda arquirrivais, representantes das “elites culturais” e das “políticas do cancelamento” que querem calar vozes conservadoras.

“Essa é a batalha do nosso tempo”, disse na Fox Dave Rubin, apresentador de um talk show conservador. “Há uma guerra sobre a realidade. Estamos em uma guerra de informação.”

Ao contrário do Twitter e do Facebook, que tomam decisões sobre o conteúdo que aparece em seus próprios sites, Amazon, Apple e Google atingiram a própria operação de outra empresa.

A Amazon Web Services acolhe uma grande parte dos sites e aplicativos na internet, enquanto a Apple e o Google fazem os sistemas operacionais para quase todos os smartphones do mundo. Agora que as empresas deixaram claro que tomarão medidas contra sites e aplicativos que não policiam suficientemente o que seus usuários postam, isso pode ter efeitos colaterais significativos.

Dilema para plataformas

Várias empresas alternativas cortejaram os apoiadores de Trump com promessas de “imparcialidade” e de “liberdade de expressão”, que provaram ser, na verdade, ambientes digitais livres para todos, onde os usuários não precisam temer serem proibidos de divulgar teorias da conspiração, fazer ameaças ou publicar discurso de ódio.

Agora elas enfrentam a escolha de intensificar o policiamento de postagens —- minando sua característica principal — ou perder sua capacidade de atingir um público amplo.

O DLive, um site de transmissão ao vivo que invasores do Capitólio usaram, removeu permanentemente mais de 100 transmissões. Acrescentou que os “limões”, uma moeda DLive que pode ser convertida em dinheiro real, enviados para os canais suspensos seriam devolvidos aos doadores nos próximos dias.

Outras plataformas que hospedam postagens de influenciadores de direita, incluindo CloutHub e MyMilitia — um fórum para grupos de milícias — ajustaram seus termos de serviço recentemente para banir ameaças de violência.

A DLive foi pressionada pela Tipalti, empresa de pagamentos que a ajuda a operar. Em comunicado, a Tipalti anunciou que suspendera seu serviço até que DLive removesse as contas que transmitiam os distúrbios no dia 6.

Essas empresas terceirizadas que ajudam aplicativos e sites a funcionarem — de processadores de pagamento a empresas de segurança cibernética e provedores de hospedagem na web como a Amazon — usaram suas posições para influenciar como seus clientes lidam com atividades extremistas ou criminosas.

Em 2019, a Cloudflare, uma empresa que protege sites de ataques cibernéticos, deu um golpe de misericórdia no 8chan, um aplicativo de mensagens on-line anônimo que hospedava o manifesto de um franco-atirador, interrompendo sua proteção ao site. Depois que o Cloudflare se afastou do 8chan, o site teve dificuldade em encontrar outros provedores de serviços que pudessem mantê-lo ativo.

O Parler pode ter o mesmo problema de não ter uma maneira de hospedar seu site, especialmente porque a empresa de repente se tornou pária após a invasão do Congresso, que foi parcialmente planejada na rede.

O Google retirou o Parler de sua loja de aplicativos Android, mas também permite que aplicativos sejam baixados de outro lugar, o que significa que os usuários do Android ainda seriam capazes de encontrar o aplicativo, apenas com um pouco mais de trabalho. Se o Parler encontrar um novo provedor de hospedagem na web, seu site também estará disponível por meio de navegadores da web em telefones e computadores.

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