O padre Stanley Lopes da paróquia da Matriz de Jardim do Seridó causou indignação nas redes sociais ao afirmar que os campi do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) de Parelhas e Currais Novos “só tem feminista, abortistas, gente da esquerda, do contra, da ideologia de gênero”. Apesar da declaração ter viralizado no último fim de semana, a missa foi transmitido em 21 de novembro do ano passado.
Durante a homilia, o padre prossegue desafiando os fiéis a utilizarem crucifixos e camisetas religiosas fora da igreja, como forma de demonstrar fé em ambientes como o da instituição de ensino. “Eu quero ver você usando camiseta religiosa lá, andando com crucifixo lá, andando com terço no bolso lá”, diz.
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Confira a declaração a partir da minutagem 47:20:
Nas redes sociais, a fala do padre Stanley Lopes foi duramente criticada:
A diretoria do campus do IFRN de Parelhas se manifestou sobre o assunto com uma longa nota ressaltando a liberdade de religião e expressão dos alunos dentro da instituição. O documento divulgado na segunda-feira 4 é assinado pelo professor e diretor geral do campus de Parelhas. Ele reforça que o ambiente escolar é livre, público e laico e que portanto não cabe à instituição promover pontos de vistas religiosos dentro da sala de aula.
Leia trecho da nota divulgada pela direção do IFRN Parelhas:
Para ilustrar o nosso papel, tomo como exemplo eu, Ramon Viana, professor e Diretor Geral do IFRN Campus Avançado Parelhas. Sou católico, praticante de ir à missa todos os domingos e ser Ministro da Eucaristia. Sustento meus valores e visões de mundo segundo a minha religião. No entanto, não me cabe ensinar e nem promover dentro do Instituto, que é instituição pública e laica (nunca é demais reforçar!), minha religião e o que eu acredito. Isso porque, antes de qualquer coisa, eu tenho que ter respeito às demais pessoas que não seguem a mesma religião que eu sigo. E do mesmo jeito que eu tenho direito de acreditar no que eu quiser, as outras pessoas também possuem esse direito. Então sejam católicos, evangélicos, umbandistas, judeus, ateus, agnósticos e demais crenças religiosas, as pessoas sempre serão respeitadas e terão sua liberdade de expressão e de religião dentro do Campus Avançado Parelhas. E não é o Diretor Geral que está estabelecendo isso, é a Constituição de 1988 que rege nosso país.
A respeito do Campus Avançado Parelhas ter “feministas, esquerdistas, abortistas, gente do contra e da ideologia de gênero”, voltamos ao Art. 5° da Constituição Brasileira e aos Art. 3 e Art. 35 da LDB. Cada pessoa é livre para ter um ponto de vista e ter as suas defesas a respeito dos temas polêmicos que surgem na sociedade, e isso é um direito que jamais, dentro do nosso Campus, será negado ou violado. O papel da nossa instituição é não conceder valores obrigatórios aos respectivos temas. Entretanto, a nossa escola tem a função, muito significativa dentro da sociedade, que é o de formar cidadãos críticos e com pensamento autônomo.
Sendo assim, temas como “a luta das mulheres por direitos”, “a política brasileira e internacional, atual e ao longo da história”, “ a diversidade de gêneros”, entre outros assuntos polêmicos, serão discutidos sim, como garante a lei. Mas, repito, isso ocorrerá sempre sem fazer referência para sustentação de valores, visões de mundo, comportamentos ou atitudes de forma absoluta e obrigatória. Tomo, ainda como exemplo, a educação sexual. Não cabe à escola dizer se o adolescente deve ou não ter relações sexuais. Mas, cabe à escola ensinar as formas de prevenir gravidez, o que são as DSTs e as formas de prevenção, o que é violência sexual, como detectá-la e como denunciá-la. O ensinamento escolar visa a formação para cidadania.
Por fim, destaco novamente que nossa escola é laica e que vai assegurar os diretos de todos, segundo a Constituição de 1988 e a LDB. Aproveito o espaço para convidar toda a comunidade a conhecer o que o IFRN Campus Avançado Parelhas vem fazendo na vida de milhares de jovens e adolescentes ao longo dos anos. Promovemos educação de qualidade, e, acima de tudo, formamos cidadãos para melhorar o mundo em que vivemos. Damos perspectivas de vida a esses jovens e a essas famílias, que muitas vezes não tiveram oportunidades. E essa sempre vai ser a maior missão da nossa escola, não julgar o que nossos alunos e funcionários acreditam e defendem, mas fazer com que nossos alunos possam acreditar em um futuro muito melhor e com oportunidades de crescimento intelectual, profissional e material, amparados em uma formação cidadã.