28/10/2023 | 05:00
Baseando-se nas observações de Pedro Doria, em seu artigo publicado ontem no jornal O Globo, percebe-se uma mudança sem precedentes na dinâmica das redes sociais. Desde o surgimento de plataformas pioneiras como Friendster, Myspace e Orkut, houve uma promessa implícita de conectar as pessoas – sejam elas amigos de longa data, colegas de trabalho ou conhecidos de diferentes contextos. O Facebook, emergindo como um dos principais atores deste cenário, parecia cumprir essa promessa, unindo um vasto leque de usuários em uma única rede aparentemente universal.
No entanto, segundo Doria, as mudanças que ocorreram a partir de 2012, principalmente com a implementação de algoritmos de inteligência artificial em plataformas como Facebook e Twitter, alteraram profundamente essa dinâmica. Estes algoritmos, projetados para otimizar o engajamento e a visualização de anúncios, acabaram por saturar o ambiente online com conteúdos polarizadores e emocionalmente carregados. Esse cenário resultou em uma atmosfera virtual cada vez mais hostil e estressante.
Como reflexo, Doria aponta para um fenômeno interessante e preocupante: um crescente movimento de timidez entre os usuários de redes sociais. A visibilidade constante e a pressão por conteúdo geraram uma reação de retraimento, com muitos usuários se fechando em seus perfis ou diminuindo a frequência e a intimidade das publicações. Paralelamente, observa-se um grupo emergente de usuários buscando profissionalizar e monetizar suas presenças online.
A ascensão de novas plataformas como TikTok, Kwai, Bluesky, Mastodon e Threads, destacada por Doria, não é apenas um sinal de diversificação no mercado das redes sociais. Representa também a fragmentação da audiência e a mudança do tipo de conteúdo predominante. Com isso, as redes sociais vêm se afastando cada vez mais de seu propósito inicial de socialização, transformando-se em espaços dominados pelo entretenimento e pela autopromoção.
Doria ainda menciona mudanças significativas no Vale do Silício e em legislações globais afetando o uso de conteúdo jornalístico pelas plataformas digitais, o que pode sugerir um afastamento dessas empresas da distribuição de notícias. Estas alterações podem ter implicações significativas para o futuro das redes sociais e o tipo de interação que elas promoverão.
O cenário descrito por Pedro Doria em seu artigo no O Globo indica uma transformação contínua e imprevisível. As redes sociais, tal como conhecidas por gerações passadas, estão evoluindo para um formato onde prevalece a cautela, diferenciando-se drasticamente das plataformas abertas e desinibidas do passado.