20/10/2023 | 05:00
A Câmara Municipal de Natal tem enfrentado, nos últimos tempos, episódios preocupantes de confrontos verbais e físicos entre seus membros. Uma série de confusões em plenário, marcadas por agressões e troca de acusações, sinaliza um notório descontrole emocional dos parlamentares e desconexão com o real propósito para o qual foram eleitos. No cerne de tal problemática, a inação da Comissão de Ética Parlamentar ganha relevância e amplifica o clamor popular por ordem e respeito.
De forma recorrente, vereadores entram em embates, transformando um espaço de discussão democrática em palco de hostilidades pessoais. O ano pré-eleitoral, por natureza, eleva as tensões no jogo político, mas isso não justifica, em hipótese alguma, a falta de civilidade e respeito que vem sendo observada. A recente confusão entre os vereadores Anderson Lopes e Robério Paulino, assim como o episódio anterior envolvendo Herberth Sena e Robson Carvalho, são claros exemplos dessa espiral de confrontos.
A opinião pública, cada vez mais criteriosa e atenta, observa com desdém tais comportamentos. O cidadão espera que seus representantes, eleitos para defender seus direitos e interesses, ajam com integridade, dignidade e responsabilidade. No entanto, o que temos testemunhado é um despreparo emocional, por vezes juvenil, que questiona a capacidade desses indivíduos de liderar e representar o povo.
A leniência da Comissão de Ética, por sua vez, é alarmante. Este deveria ser o órgão guardião do decoro e da ética, garantindo que os parlamentares se comportem de acordo com os padrões esperados e exigidos pela sociedade. No entanto, apesar das reiteradas confusões, a Comissão tem permanecido inerte. Conversas informais, como as relatadas pelo presidente da comissão, não substituem ações concretas e transparentes, necessárias para restaurar a confiança pública.
O cientista político Daniel Menezes, ao refletir sobre esse cenário, em entrevista que pode ser lida na página 6 desta edição do Agora RN, apresenta uma perspectiva pertinente: a tendência é de piora com a proximidade do pleito. Se a Câmara Municipal de Natal já enfrenta tais episódios agora, o que esperar das futuras sessões, ainda mais carregadas de interesses eleitorais? Nesse contexto, torna-se urgente que a Comissão de Ética assuma seu papel proativo, não apenas como uma resposta aos anseios da sociedade, mas como uma necessidade imperativa para a saúde da democracia.
Por fim, cabe questionar: até quando tais episódios continuarão a manchar a imagem do Poder Legislativo de Natal? Não seria hora, de fato, de colocar a Comissão de Ética em ação, de impor ordem através das leis, e de demonstrar que a Câmara está à altura do compromisso que lhe foi confiado pelo eleitorado?
*Publicado na edição impressa do AGORA RN desta sexta-feira, 20 de outubro de 2023.