A notícia sobre as intervenções para aliviar a desumanidade no Hospital Walfredo Gurgel, no Rio Grande do Norte, traz um misto de alívio e indignação. O recente início do esvaziamento de seus corredores superlotados é uma medida há muito esperada e necessária. Contudo, é fundamental refletir sobre a série de falhas sistemáticas que permitiram que tal cenário de descaso se perpetuasse até os dias atuais.
É, de fato, um avanço ver ações concretas sendo implementadas para combater a superlotação e melhorar o atendimento aos pacientes. Mas não podemos deixar de questionar: como, em pleno século XXI, ainda enfrentamos tamanha negligência com a saúde pública, especialmente das camadas mais vulneráveis? A superlotação, a falta de recursos e a precariedade das condições hospitalares refletem uma grave e persistente injustiça social. A saúde, um direito fundamental garantido pela Constituição, parece ser um privilégio inatingível para muitos.
Além disso, causa decepção e preocupação a aparente incapacidade de alinhamento e cooperação entre o governo estadual e a prefeitura de Natal. Quando se trata de saúde pública, a urgência das necessidades da população deveria estar acima de divergências políticas ou burocráticas. A ineficiência e a falta de comunicação entre essas esferas do poder não apenas atrasam soluções cruciais, mas também prolongam o sofrimento de inúmeros indivíduos que dependem do sistema público para cuidados essenciais.
Embora seja louvável a iniciativa do Ministério Público Estadual e da Justiça, que agiram decisivamente para instaurar as mudanças necessárias, é impossível não observar a ironia dessa situação. A atuação do sistema judiciário e da promotoria, apesar de imprescindíveis, destacam um vazio de liderança e comprometimento dos gestores eleitos. Estes deveriam ser os primeiros a zelar pelo bem-estar da população, agindo proativamente para prevenir e solucionar problemas como os enfrentados pelo Hospital Walfredo Gurgel.
As ações para mitigar a crise na saúde pública em Natal não devem ser vistas como um ponto de chegada, mas como um passo inicial rumo a um sistema de saúde mais humano, equitativo e eficiente. Que esta situação sirva de alerta e motivador para que governantes e autoridades reconheçam e assumam suas responsabilidades, priorizando sempre a saúde e a dignidade de todos os cidadãos. É um imperativo moral e ético que não pode ser ignorado ou relegado a um plano secundário nas agendas políticas.