Há cerca de três décadas, a banda Catedral saiu do Rio de Janeiro com destino ao Rio Grande do Norte para a primeira apresentação do grupo desbravador em terras potiguares. O show aconteceu no coração de Natal, em uma praça no bairro do Alecrim. Eram outros tempos e a vontade de produzir só crescia em um movimento de consolidação do universo gospel.
Como frequentavam a mesma igreja, os jovens músicos se juntaram para criar a banda. O primeiro cachê do grupo, aliás, foi uma guitarra e um baixo, dois instrumentos essenciais. A “banda de garagem” logo conseguiu gravar o primeiro disco, intitulado “Você” e lançado em 1988. “Pegamos o surgimento de rádios e meios de comunicação para o gospel. Como fazia parte da nossa vivência, fizemos sucesso junto nessa onda”, disse o baterista Guilherme Morgado ao Agora Entrevista.
“Éramos uma das bandas pioneiras no segmento de rock gospel. Batemos um pouco mais forte porque chegamos até denunciando situações que aconteciam dentro da igreja, por exemplo”, continuou. O ar de frescor veio com a ousadia de mesclar a sonoridade do rock e a mensagem gospel, em uma criação inspiradora.
De lá para cá, foram quase 30 álbuns lançados e diversos singles que estouraram no amplo mercado brasileiro. O público cristão foi ampliado e mais pessoas, das mais variadas crenças, passaram a acompanhar a Catedral. Em 2015, o grupo ensaiou um término. Porém, a insistência dos fãs foi o suficiente para a retomada.
“Voltamos porque o público pediu. Eu queria parar na época porque eu vi que fizemos um trabalho que estava completo. Olhei para trás e vi que construímos um caminho bacana. Tive a sensação de que daria para partir para outros projetos. Conversamos e decidimos terminar. Mas o público não aceitou então sentimos que nos precipitamos. Não foi jogada de marketing, dessa vez, quando a gente terminar, não vai ser falado, vai ser como a vida é: um estalo”, revelou o vocalista Joaquim Mota, o Kim.
Durante a pandemia da covid-19, o elo entre os músicos foi fortalecido, apesar da distância física. Eles escreveram as músicas para o álbum “Viagem pelo Tempo”, lançado em maio deste ano. “Imagine passar esse isolamento social sem arte… como estaríamos? A arte acalentou muita gente, deu essa segurança para as pessoas não perderem a cabeça”, reconheceu Júlio César Motta (contrabaixo).
No trabalho, duas músicas especialmente remetem ao período atual. “’Viva a Vida’ é uma resposta para ‘Confinamento’. ‘Confinamento’ é mais poética, enquanto que ‘Viva a Vida’ é mais prática, mais direta, para que você leve os ensinamentos e tenha uma reação. São músicas feitas na pandemia e possuem uma carga emocional muito grande”, relatou Kim.
Depois de quase dois anos sem apresentações presenciais, a Catedral voltou aos palcos e Natal foi a cidade agraciada para o primeiro show. No Teatro Riachuelo na noite desta sexta-feira 8, o repertório contou com as canções mais novas e com os sucessos da longa carreira da banda. “Nessa mini turnê, queremos que as pessoas entendam que a vida é um estalo, é frágil, e que a gente tem que amar todo mundo ao nosso redor. E amar em todos os momentos, porque qualquer segundo pode ser uma despedida”, frisou Kim.
A mensagem de fé e esperança por dias melhores é o lema dos três músicos. Kim e Júlio, que são irmãos, perderam o pai para a Covid-19 e esperam que o pesadelo esteja próximo do fim. Para Guilherme, “quando tudo isso passar, a música vai ficar. Daqui a 30 anos, quando falarem sobre a pandemia, as pessoas vão buscar referências nos livros e nas músicas”.