07/05/2020 | 03:05
O presidente Jair Bolsonaro não precisa de ministros. Ajudantes de ordem, talvez, ou vassalos dispostos a acatar ordem sem discutir.
Criou problema, rua.
Afinal, como ele sempre diz, “eu mando, o presidente sou eu”.
Não que fuja à competência presidencial demitir ministros e escolher até escalões inferiores. É que não é usual em tempos modernos tamanho zelo com cargos que, a rigor, não vinham até aqui dando problemas.
Há ainda outra questão: a crescente presença de militares – na ativa e reformados – no governo federal. Esse número é hoje tão expressivo (e continua crescendo) que sugere um extraordinário aparelhamento do Estado em áreas que vinham desempenhando bem seu papel até aqui.
Então, como perguntou o ex-ministro Sérgio Moro, por ocasião de seu pedido de demissão: “por que mudar?”
Recentes mexidas na Polícia Federal, no Ministério da Justiça e Segurança Pública e no Ibama, por conta de interferências diretas do presidente da República, sugerem que Bolsonaro não se contenta apenas com o seu cargo poderoso – ele quer efetividade quando o assunto é sua visão particular de mundo.
Esse é o perigo.
A gota d’água voltou a ser agora o Ministério da Saúde, cuja incompetência do atual titular indicado por Bolsonaro por pura decisão política, contará com a providencial presença de (adivinhem!) outros militares.
As mudanças, que já começaram e se estenderão pelos próximos dias, reforçam o que secretários estaduais e gestores do SUS estão chamando de “tutela” do Palácio do Planalto e da área militar em mais um setor da vida do País.
Entre as mudanças previstas está a nomeação do coronel Alexandre Martinelli Cerqueira na Diretoria de Logística (DLOG), área responsável por compras do ministério.
Enquanto o País afunda na pandemia, figurando como o próximo epicentro do novo coronavírus no mundo, quando os EUA abdicarem dessa triste posição, Bolsonaro segue erguendo muros, cooptando militares, favorecendo setores bastante discutíveis como a indústria de armas, madeireiros e garimpeiros ilegais.