A Prefeitura do Natal está estruturando uma rede para monitorar as mudanças climáticas. Capitaneado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb), o projeto consiste na instalação de 50 pluviômetros, quatro estações meteorológicas e ainda 21 termo-higrômetros, em todas as regiões da cidade.
Os pluviômetros medem a quantidade de chuva. Já as estações meteorológicas reúnem diversos sensores para registrar dados como temperatura, umidade, velocidade do vento, pressão atmosférica e volume de chuva, permitindo um acompanhamento climático mais amplo e contínuo. O termo-higrômetro, por sua vez, é um aparelho que combina dois sensores: um termômetro, que mede a temperatura do ar, e um higrômetro, que registra a umidade relativa.

De acordo com Carlos da Hora, coordenador do Setor de Mudanças Climáticas da Semurb, o objetivo é formar um sistema robusto para facilitar pesquisas científicas sobre o tema e, consequentemente, mitigar impactos provocados por fenômenos climáticos mais extremos.
Com um monitoramento mais eficaz, a ideia é ter mais subsídios para políticas públicas em diversas áreas que tornem Natal uma cidade melhor preparada para as mudanças climáticas. Os dados podem auxiliar as autoridades a planejar ações de redução de danos e, por exemplo, prevenir desastres naturais.
Os pluviômetros já estão quase todos os instalados. A maioria deles fica em escolas da rede municipal de ensino. Em uma ação de educação ambiental, os próprios estudantes montam os equipamentos e, com auxílio dos professores, fazem a medição diária de chuvas.
Outra decisão estratégica foi escolher unidades de ensino que ficam perto de lagoas de captação da água da chuva. Com isso, quando um pluviômetro identificar uma chuva acima do padrão, a Defesa Civil e outros órgãos do poder público terão condições e informações precisas para aferir se há risco, por exemplo, de transbordamento das lagoas. Assim, é possível agir a tempo de emitir alertas à comunidade e prevenir desastres.
Quanto às estações meteorológicas, a primeira delas será instalada nesta quinta-feira 5, no Parque da Cidade, dentro da programação do Dia do Meio Ambiente.
Também nesta quinta-feira, a rede de monitoramento será apresentada em um seminário que será realizado no Anfiteatro do Centro de Ciências Exatas e da Terra (CCET) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal. O evento será aberto com uma palestra do secretário da Semurb, Thiago Mesquita, que vai apresentar a rede que está sendo montada.
A rede conta com apoio do Grupo de Estudos Observacionais e de Modelagem da Interação Biosfera-Atmosfera (Geoma), da UFRN, e também do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Carlos da Hora registra que a criação da rede representa um marco na política ambiental do município, ao permitir o monitoramento contínuo e descentralizado do clima, gerando dados fundamentais para prevenir desastres, planejar o uso do solo e garantir maior segurança à população.
“No futuro, teremos uma Sala de Situação, em que teremos condições, com os dados dessa rede, de fazer previsões e alertas. É um avanço na mitigação dos impactos das mudanças climáticas. Atuamos para antecipar riscos e propor medidas para o futuro”, destaca o coordenador da Semurb.
Capital do RN está entre as poucas cidades com plano já publicado
No fim do ano passado, Natal lançou o Plano Municipal de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas (PMMC), elaborado pela equipe da Semurb. Foi mais um pioneirismo da capital potiguar. Um estudo divulgado em maio deste ano pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) aponta que apenas 13 das 26 capitais brasileiras, além de Brasília, possuem planos municipais de mudanças climáticas formalmente instituídos.
Além disso, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni, 66% dos 5.570 municípios brasileiros não estão preparados para enfrentar as mudanças climáticas.
O plano elaborado pela Semurb aponta, entre outros dados, o fato de que Natal teve, nos últimos 30 anos, um aumento na temperatura média superficial de 0,9 ºC. Além disso, houve redução no vento e na umidade relativa do ar (- 2,2%).
“Os impactos são enormes. Temos aumento do desconforto térmico e problemas de saúde. Em áreas onde a temperatura sobe, há a possibilidade de maior incidência de problemas cardiovasculares em quem já tem predisposição por exemplo”, acrescenta o meteorologista da Semurb Thales Nunes.
O secretário Thiago Mesquita destaca a relevância do plano como um instrumento completo que coloca Natal à frente no enfrentamento das mudanças climáticas, com metas claras de mitigação e adaptação.
“O plano é um importante e completo instrumento, que prevê ações concretas para o enfrentamento das mudanças climáticas. Colocando Natal como a primeira cidade a ter no seu Plano Diretor uma política municipal clara com objetivos e metas específicas para mitigação e adaptação”, ressalta.
Outra inovação é que o plano tem também um ranking dos setores que mais emitem gases do efeito estufa em Natal. O principal deles é o segmento de transporte. Os dados foram apresentados à Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (STTU) para que planeje um aumento no investimento em eletromobilidade, para reduzir o nível de poluição.