01/04/2020 | 05:00
Independentemente do que diga, ou faça ou desfaça, sua excelência o presidente da República, já não é mais possível separar, em duas caixinhas, pandemia e economia. Enquanto a primeira é um fato dado, a segunda está, inevitavelmente, comprometida.
Já andava mal das pernas bem antes de tudo começar e agora, que o paciente baixou na UTI, não é possível perder mais um segundo nessa guerra sem precedentes na história recente. Considerando que, até o momento, só as camadas mais favorecidas da população, por dinheiro ou influência, tiveram acesso efetivo a testes para o diagnóstico da covid-19, logo que esses casos se instalarem maciçamente junto às camadas mais pobres da população, a curva vai disparar, tão certo como a chuva cai de cima para baixo.
Na Itália, foi uma questão de dias para isso acontecer e na Espanha, também. Em ambos os casos, a explosão nas notificações foi precedida de negação por parte das autoridades. Assim como o presidente Bolsonaro faz por aqui. O problema é que os dirigentes negacionistas já mudaram de posição faz tempo. Só ele não.
Insiste em se apegar à tese de que os informais precisam trabalhar, quando isso já deixou de indicar que conseguirão sobreviver sem o consumo de parte da população que já está em isolamento. Boa parte desses confinados, aliás, precisaram negociar o pagamento das próprias contas e economizar qualquer tostão enquanto a tempestade não dissipar.
O problema é que, enquanto Bolsonaro perde tempo investindo contra moinhos, a ajuda para quem já passa forme na base da pirâmide social não chega. Patina entre as idas e vindas do presidente da República que, querendo ou não, trava a fluidez de ações e intimida ministros.
Sabe-se que, em situação de confinamento social, uma pessoa contaminada, mas assintomática, pode passar o vírus para duas outras. Fora da situação de confinamento, esse número quadriplica e, dependendo da disposição do vetor de zanzar por aí, como Bolsonaro fez dias atrás em Brasília, o céu é o limite.
Não vai ser um espetinho de rua ou uma concentração em torno de um carrinho de cachorro quente que compensará o risco que todos passarão a correr, já sabendo o que os aguarda nas urgências dos hospitais. Inevitavelmente, faltarão respiradores e leitos de UTI para todos devido ao colapso de um sistema tradicionalmente assolado pelas outras doenças velhas conhecidas dos médicos.
Ao contrário dessas, porém, a nova versão do coronavírus ainda é uma ilustre desconhecida dos cientistas, que correm desesperadamente em todo o mundo em busca de solução. Mesmo que amanhã Bolsonaro peça perdão por vender a falácia de que só o fi m do confinamento será capaz de devolver trabalho e renda aos mais necessitados, será tarde demais.
Ficar em casa não é um fim, é um meio. Quem não entende isso não está preparado para governar o País.