O último filme de Joaquin Phoenix não é um clássico, nem fácil de assistir, mas esse não é seu objetivo. Gunda, um documentário pró-vegano, tenta convencer o público a abrir mão da carne.
Para isso, segue a jornada de encantadores animais de criação cujo destino é o matadouro.
Essa é a última aposta do protagonista de Coringa, fervoroso militante dos animais e ativista vegano de longa data, que foi produtor-executivo do filme rodado a preto e branco e totalmente desprovido de comentários, diálogos e roteiro.
De qualquer forma, o espectador não precisa de um enredo para saber onde Gunda, a porca norueguesa que dá nome ao filme, e seus filhotes vão terminar seus dias.
“A vida dos porcos não tem muitos mistérios. Eles viram linguiça”, afirma o diretor do documentário, Victor Kossakovsky.
“Mas Gunda ficou famosa. Tanta gente deixou de comer carne [por causa do filme] que o dono da fazenda resolveu deixá-la viver em paz até o fim dos seus dias”, explica.
Phoenix e o diretor russo, que também é vegano, esperam que o longa-metragem, que estreia nesta sexta-feira, 17, salve a vida de vários outros animais.
Os dois se conheceram depois que o ator fez um discurso vibrante a favor dos animais ao receber o Oscar de melhor ator em fevereiro.
Com lágrimas nos olhos, o ator denunciou diante de Hollywood como os humanos permitem “inseminar artificialmente uma vaca (…) e quando ela dá à luz”, seu bebê é roubado “apesar de seus gritos de angústia”.
Os próximos a Kossakovsky, acostumados a ouvir discursos semelhantes do diretor, imediatamente o chamaram para saber se ele era o autor do texto de Phoenix.
“Nem voz, nem mensagem”
“Não, eu nunca tinha falado com ele”, afirmou Kossakovsky, cuja equipe organizou rapidamente uma exibição de Gunda para o ator. Ele se lembra de como ficou “animado” depois de viver uma “experiência sem precedentes”.
Phoenix imediatamente ligou para Kossakovsky para parabenizá-lo: “Finalmente alguém fez isso, alguém mostrou os animais como eles são”.
“Ele imediatamente fez parte da equipe. Foi um encontro maravilhoso”, conta o diretor sobre o ator.
Embora o diretor russo tenha ganhado inúmeros prêmios e seja uma referência para muitos cinéfilos, ele permanece desconhecido para grande parte do público, então reconhece que o carisma e a fama de Phoenix foram uma grande vantagem para divulgar o documentário.
Para evitar possíveis polêmicas ou acusações de manipulação, Kossakovsky decidiu dispensar todos os comentários e até mesmo músicas para colocar os animais no centro do filme.
“Se eu colocar uma música semelhante à Lista de Schindler, porque o tema é realmente semelhante, o mundo inteiro vai chorar”, ressalta.
Por isso optou por não colocar “nenhuma narração em ‘off’, nenhuma mensagem, nenhuma música, nada que pressione” o espectador.
“Olhe e decida por você”, explica o diretor, vegetariano desde criança, que se tornou vegano durante as filmagens de “Gunda”.
“Minha Meryl Streep”
Esta escolha foi especialmente impactante ao final da fita, quando a câmera acompanha a porca na fazenda, cada vez mais assustada com o destino de seus filhotes.
Kossakovsky não conseguiu se esquecer do olhar desesperado do animal que escolheu como protagonista do filme minutos após conhecê-lo. “Era minha Meryl Streep… Uma atriz incrivelmente especial, capaz de transmitir emoções sem falar”, recorda.
“Esperávamos procurar por quatro a seis semanas. Mas o primeiro animal que conhecemos foi Gunda. Estava claro que falava comigo.”
O filme estreia na sexta-feira, 17, em “cinemas virtuais” de Nova York e Los Angeles e espera-se que chegue às salas de exibição no ano que vem.