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Política
Governo do RN vai copiar regra do arcabouço fiscal de Lula para conter avanço da folha
Inspirada no arcabouço fiscal, regra estabelece que despesa com pessoal só vai poder crescer até 80% do avanço da receita
Tiago Rebolo e Nathallya Macedo - Repórteres de Política
25/10/2023 | 05:00

O Governo do Rio Grande do Norte vai criar uma nova regra para conter o avanço da despesa com pessoal. De acordo com o secretário estadual de Administração, Pedro Lopes, o modelo será inspirado no arcabouço fiscal implementado pela equipe econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Pela regra que está sendo desenhada pelo governo em parceria com o Ministério Público junto ao Ministério Público de Contas (MPjTCE), a partir de 2024 o crescimento anual da despesa com pessoal não vai poder ultrapassar 80% do crescimento da receita. Por exemplo: se em um ano a receita crescer 10%, a despesa só vai poder avançar no máximo 8%. No arcabouço do Governo Lula, o limite básico para crescimento da despesa é 70% do avanço da receita.

Segundo Pedro Lopes, todos os reajustes salariais e promoções deverão se encaixar na nova regra. Além disso, novos concursos só poderão ser realizados caso haja margem disponível para isso. A expectativa é que a despesa com pessoal caia na proporção de 10% por ano.

O arcabouço fiscal estadual está descrito em uma minuta que será levada para decisão final da governadora Fátima Bezerra (PT). Após aprovação da petista, o texto vai gerar um Termo de Ajustamento de Gestão (TAG), assinado entre Governo do Estado e MPjTCE. Além disso, um projeto de lei deverá ser enviado à Assembleia Legislativa para validar o acordo.

O secretário de Administração afirma que, caso a regra seja implementada, até 2031 o Governo do Estado reduzirá sua despesa com pessoal para o limite máximo previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que é de 49% da receita.

Pedro Lopes diz que a regra do arcabouço fiscal é sustentável porque é responsável com as finanças públicas sem impor aos servidores um congelamento salarial ou redução do poder de compra. Ele garante que, com a regra, concessões continuarão a ser realizadas, mas respeitando uma trava legal.

“À medida que o Estado for cumprindo a meta de redução gradual de 10% ao ano, nós faríamos as nomeações, com pé no chão, reconhecendo a situação de dificuldade financeira que o Estado está passando, mas também compreendendo a necessidade de manter o poder de compra dos trabalhadores e de recomposição do quadro. Estamos com déficit de mais de 15 mil servidores”, enfatiza.

Paralelamente a isso, o Governo do Estado planeja expandir receitas para ampliar a margem de crescimento da despesa. Uma das iniciativas é a elevação da alíquota-modal do ICMS, de 18% para 20%, de maneira permanente.

De acordo com a Secretaria do Tesouro Nacional, o Rio Grande do Norte é o estado brasileiro com o maior índice de comprometimento da receita com folha de pessoal. No segundo quadrimestre de 2023 (maio a agosto), o Estado gastou 57,76% de sua receita com funcionalismo.

MP de Contas prega “racionalização da despesa”

Para o procurador-geral do MP junto ao TCE, Luciano Ramos, o que fará com que o Estado retorne aos patamares preconizados pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) é, entre outras medidas, “a racionalização da despesa pública de forma mais abrangente”.

De acordo com o procurador-geral, a Lei Complementar 178/2021 trouxe uma nova regra para o retorno aos limites de gastos com pessoal, quando o órgão ultrapassa este gatilho. O prazo para retorno agora é de 10 anos a partir do terceiro quadrimestre de 2023.

“Dito isto, é preciso também registrar que a infração à Lei de Responsabilidade Fiscal só ocorre quando ultrapassados dois quadrimestres – em condições normais, ou quatro quadrimestres em caso de crescimento do PIB baixo ou negativo – sem que o ente tenha retornado a patamares inferiores ao limite total de despesas com pessoal. No caso do RN, o problema com as despesas com pessoal já ocorre há quase dez anos”, afirma o procurador.

Luciano explica que algumas sanções foram aplicadas nos últimos anos, além de outras medidas, na tentativa de se corrigir o problema de excesso de gastos com pessoal na administração pública do RN.

“O TCE já aplicou a maior sanção possível: reprovação das contas do então governador nos exercícios de 2016, 2017 e 2018, tendo encaminhado os pareceres prévios com trânsito em julgado para a Assembleia. E quanto ao exercício de 2019, embora ainda pendente de julgamento, tem-se pareceres técnicos e do Ministério Público de Contas pela desaprovação igualmente destas contas de governo”, detalha o procurador.

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