Dez ex-secretários de Defesa dos EUA, de governos democratas e republicanos, defenderam, em artigo publicado neste domingo pelo Washington Post, que as Forças Armadas não devem participar da cruzada mantida por Donald Trump para reverter a derrota nas urnas em novembro. Mais que isso: são categóricos ao afirmar que “o momento de questionar os resultados já passou”. “Nossas eleições ocorreram. Recontagens e auditorias foram realizadas. Questionamentos apropriados foram analisados pelos tribunais. Governadores certificaram os resultados. E o Colégio Eleitoral já votou”, afirma o texto.
O grupo inclui nomes como Dick Cheney, ex-vice-presidente, Donald Rumsfeld, que ocupou a pasta nos governos de George W. Bush e de Jimmy Carter, além de dois secretários que comandaram o Pentágono durante o governo Trump: James Mattis e Mark Esper. No texto, eles deixam clara a importância de uma transferência de poder pacífica na história do país.
“Elas (transferências de poder) ocorrem por vezes em tempos de incertezas sobre a política de segurança nacional dos EUA e sua postura no mundo. Podem ser um momento quando a nação está vulnerável a ações de adversários buscando tirar vantagem da situação”, escrevem os secretários.
Nas últimas semanas, o presidente Donald Trump promoveu mudanças na estrutura do Pentágono, colocando aliados em posições cruciais e sugerindo que poderia incluir os militares em sua jornada para tentar anular os resultados da eleição de novembro. Isso, para os secretários, poderia jogar a nação em um “território perigoso e fora da lei”.
“Oficiais civis e militares que realizarem tais medidas (interferência eleitoral) podem ser punidos, incluindo de forma criminal, pelas graves consequências de suas ações em nossa república”, afirma o texto.
Nessa linha, os secretários fazem um apelo ao Departamento de Defesa para que evite ações que possam prejudicar a transição para um novo governo. “Essa ação final diz respeito à manutenção das mais altas tradições e profissionalismo das Forças Armadas dos EUA, e a história de transição democrática em nosso grande país.”
Em agosto, o chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, Mark Milley, declarou ao Congresso que os militares americanos não se envolveriam na eleição ou em eventuais disputas relacionadas ao resultado. “A Constituição e as leis dos EUA e dos Estados estabelecem procedimentos para a realização das eleições e para resolver disputas posteriores. Não vejo os militares dos EUA como parte desse processo”, declarou, em carta, à Comissão de Serviços Armados da Câmara.
Em novembro, reforçou o caráter apartidário da instituição. “Somos únicos entre os militares. Não fazemos juramento a um rei ou rainha, a um tirano ou a um ditador. Não fazemos juramento a um indivíduo. Não fazemos juramento a um país, a uma tribo ou religião. Fazemos um juramento à Constituição”, disse Milley. A Casa Branca e o Departamento de Defesa não se pronunciaram.