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Saúde

Especialistas apontam riscos no consumo do vape e elogiam decisão da Anvisa

Além de ainda ter consequências pouco conhecidas, maior parte dos usuários dos produtos são jovens, atraídos pelo gosto e cheiro do produto
Carlos Saturnino
30/04/2024 | 07:45

Neste mês de abril, os diretores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiram, por meio de votação unânime, pela continuidade da proibição dos cigarros eletrônicos, também conhecidos como vapes, em todo o território nacional. A nova norma emitida pela agência reitera uma decisão de 2009, que tornava proibida, além da produção, distribuição, comercialização, armazenamento e transporte dos Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs), a importação, comercialização e propaganda destes, também conhecidos como vapes ou pods, em todo o território nacional.

Para médicos especialistas em pneumologia e tratamento de dependentes químicos de nicotina, os cigarros eletrônicos oferecem grande perigo à sociedade e principalmente aos jovens, que representam o maior grupo de usuários dos dispositivos para fumar. Isso porque além de causarem malefícios que ainda não são completamente conhecidos, por serem proeminentes de um produto recente, os dispositivos possuem um atrativo que o cigarro convencional não tem: o sabor doce e o cheiro agradável.

Foto: José Aldenir/AGORA RN
Em 30 dias de consumo de vapes, usuários podem desenvolver problemas. Foto: José Aldenir/AGORA RN

A médica pneumologista Suzianne Lima, coordenadora do grupo de tratamento de Tabagismo do Hospital Universitário Onofre Lopes, esclarece que a forma como a nicotina é absorvida pelo corpo ao usar o cigarro eletrônico é diferente do processo ocorrido com o cigarro convencional, e que as consequências disso ainda não são totalmente conhecidas.

“A nicotina presente no cigarro eletrônico, principalmente nos de última geração, são em forma de sal de nicotina, que é a nicotina associada ao ácido benzóico e que deixa a nicotina mais palatável, atravessando a barreira hemato encefálica em pouquíssimos segundos, se tornando uma droga com alto potencial de dependência química, pois a nicotina chega no cérebro e rapidamente libera dopamina: substância que dá prazer”, afirmou Suzianne.

Entre as doenças que até então se sabe que podem ser desenvolvidas pelo uso dos cigarros eletrônicos, além de diversos tipos de câncer, estão o enfisema pulmonar, bronquite crônica, asma, problemas em cordas vocais e uma lesão pulmonar chamada Evali, que é uma lesão inflamatória causada pelo cigarro eletrônico e que pode levar o paciente a ter insuficiência respiratória aguda e morte.

O médico clínico Milton Cirne, que atua junto a grupos de combate ao tabagismo e acolhimento de tabagistas no RN, disse que achou assertiva a decisão da Anvisa em manter a proibição da comercialização dos cigarros eletrônicos no país. Para ele, além da maioria dos usuários do dispositivo ser jovem, “a legalização do produto representaria, para este século, o que a industrialização do tabaco representou no século 19 – a comercialização em massa, crescimento excessivo do número de usuários e aumento do número de pessoas com doenças decorrentes do uso diário do produto”.

Ou seja, segundo o especialista, o cigarro eletrônico traz danos muito mais rápidos ao organismo humano que o cigarro convencional. “Enquanto o cigarro convencional demora em média de 20 há 40 anos para mostrar os sinais dos danos, o eletrônico faz isso em poucos meses de uso”, relatou o médico.

O dado que Milton traz já foi atestado por pesquisas internacionais. Um estudo feito pelos institutos americanos de pesquisa Center for Tobacco Research, do The Ohio State University Comprehensive Cancer Center, e pela Southern California Keck School of Medicine, constataram que, em apenas 30 dias de consumo de cigarros eletrônicos, os usuários desenvolveram problemas respiratórios severos, mesmo no caso de pessoas jovens com boas condições de saúde.

Usuários de cigarros eletrônicos há 30 dias tiveram um risco 81% maior de apresentar um sintoma chamado chiado, o que pode ser atribuído a uma variedade de condições respiratórias, sendo as principais a asma, bronquite, doença pulmonar obstrutiva crônica – o enfisema pulmonar.

Segundo o último documento emitido neste mês, as ações adotadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária irão incluir a partir de agora a apreensão, o recolhimento, a proibição e a suspensão de armazenamento, comercialização, distribuição, fabricação, importação, propaganda e uso dos cigarros eletrônicos. O texto também decide que deverá ser implementada a promoção de campanhas publicitárias e educativas sobre os riscos do uso dos vapes para jovens e adolescentes.

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