Se em setembro último, quando o prefeito de Natal Álvaro Dias (PSDB) autorizou o retorno presencial nas escolas privadas, o panorama dos estabelecimentos particulares era sombrio, com um nível de inadimplência que beirava 40% na ocasião, hoje, o clima é totalmente oposto.
A simples previsão do início da vacinação contra o novo coronavírus para as próximas semanas fez, por exemplo, com que os prognósticos feitos há três meses pelo presidente do Sindicato das Escolas Particulares da capital potiguar, Alexandre Marinho, fossem da água para o vinho.
De uma previsão de que 15% das escolas privadas da rede, hoje responsável pelo acolhimento de 90 mil alunos em Natal e Região Metropolitana, não retornariam este ano em meio à demissão de mais de 1.200 professores e auxiliares, por conta da pandemia, o presidente do Sindicato das Escolas Particulares tem uma opinião oposta atualmente.
Segundo ele, mesmo com a manutenção dos protocolos de biossegurança nas escolas, que as obriga a terem 15 alunos numa sala onde cabem 30, “as matrículas estão fluindo normalmente e reiniciaremos as aulas a pleno vapor”.
Mais: com exceção das turminhas do fundamental, nos demais períodos escolares o retorno de alunos está garantido a partir da experiência de aulas presenciais, virtuais e das chamadas “híbridas”, nas quais os alunos alternam os modos presenciais e virtuais.
“E não venham me cobrar se a qualidade do ensino caiu porque fizemos o que foi possível diante de uma crise sanitária de proporções épicas”, dispara o sindicalista, que é um reconhecido professor de matemática de longa data.
Aliás, sobre essa questão, Alexandre Marinho admite que, com exceção das faculdades, que já apostam no ensino à distância (EAD) como modelo de negócio não é de hoje, no ensino tradicional básico “é inegável a importância do ensino presencial”.
E por várias razões, segundo ele. “Primeiro porque é muito complicado manter a concentração dos alunos em aulas virtuais e, depois, porque a convivência e a socialização fazem parte ativa da formação”, acrescenta.
Seja como for, o professor acha que o angustiante período da pandemia, que ainda não acabou, amadureceu as instituições e as deixou mais resilientes para com os desafios do futuro.
“Acho que o mercado tem dessas coisas, uma hora uma escola nova recebe alunos de outra, num movimento normal de mercado. Mas em relação ao ano retrasado, quando não havia pandemia, só o ensino fundamental terá um retorno mais longo e, mesmo assim gradativo”, afirma.
Pelos cálculos dele, isso deve representar imediatamente 3% do contingente geral de alunos de Natal e Região Metropolitana que ainda voltarão aos poucos. Em relação aos demais, assegura, “todos estão voltando a se matricular”, assegura.
E finaliza: “Entre dois e oito de fevereiro a vida recomeça, com muitos protocolos, mas recomeça de qualquer maneira, especialmente com a vacina vindo ai”.
Livrarias e papelarias preveem quedas
O mesmo otimismo das escolas particulares não é compartilhado com um tradicional fornecedor: as livrarias e papelarias. Com a volta às aulas da rede privada, prevista para o início de fevereiro, as empresas preveem quedas expressivas de faturamento, que podem alcançar os 50%.
Para o presidente do Sindicato das Escolas Particulares, Alexandre Marinho, em parte, essa redução se deve à progressiva opção das escolas em trabalhar com material didático próprio, que são disponibilizadas em redes virtuais internas.
A gerente da livraria e papelaria Câmara Cascudo, Maura Andrade, por exemplo, acredita que o estabelecimento não irá atingir este ano nem 50% das vendas de material escolar, se comparado aos números do ano passado.
“Estamos com uma movimentação bem abaixo do normal, a expectativa é que este ano realmente a gente não consiga vender nem a metade do que faturamos em 2020. Muitos pais pedem o orçamento dos materiais e livros exigidos pelos colégios, mas fechar mesmo, são poucos. Eles vêm, fazem a pesquisa de preços e vão embora”, conta.
Diz que por causa da pandemia a livraria percebeu que grande parte dos clientes ainda está receosa de ir até a loja e por isso realiza o delivery dos materiais com as vendas online. E acrescenta: “Nossa loja diariamente está com pouquíssima gente, ainda mais pela questão da pandemia, muitos clientes estão com medo de vir até a loja por causa da covid-19”.
Na Iskisita Atacado, apesar do fluxo melhor de clientes, a procura do material escolar nem se compara aos anos anteriores, com os corredores lotados, como explica o gerente Sebastião Magno.
“Este ano não iremos chegar nem a 35% de vendas de material escolar, se comparado com os outros anos, quando a loja ficava lotada de gente e, além disso, a gente percebeu que as listas de materiais exigidos pelas escolas diminuíram muito, já que os materiais adquiridos no ano passado nem foram utilizados. Apesar disso, esperamos ter um faturamento maior depois do dia 20 de janeiro, data mais próxima do retorno das aulas”, relata.
Na livraria A Casa do Colegial, no bairro do Alecrim, a queda nas vendas dos itens escolares já é de 60% em comparação a 2020, já os livros didáticos estão saindo mais, é o que afirma o gerente comercial, Valério Barbosa Calado.
“A venda de material ainda não começou acontecer de forma expressiva, então já temos uma redução de 60% na venda dos produtos escolares, inclusive já atendi pais que dizem que só compraram 30% do que tem na lista, pois já tem boa parte dos materiais em casa. Agora livros didáticos estão com uma movimentação melhor”, explica.
Para o outro lado do balcão, a vida continua dura, como diz o policial civil Sócrates Nascimento, enquanto comprava os materiais escolares do filho. “Em quatro livros que eu precisei comprar já gastei em média R$900 e ainda tem o material escolar; o bom é que os materiais estão com preços baixos e parte deles meu filho já tem casa por que não usou no ano passado”.