No Dia Internacional da Saúde Mental, celebrado em 10 de outubro, o jornal AGORA RN abordou um tema preocupante: o impacto da pandemia na saúde mental de crianças e adolescentes. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), a crise sanitária provocou um estresse global, afetando o bem-estar emocional de pessoas ao redor do mundo. Mas como isso se refletiu em nossa juventude?
De acordo com a psicóloga Marina Costa, muitos jovens que passaram meses estudando de casa agora apresentam uma timidez excessiva. Isolados por tanto tempo, enfrentam dificuldades para retomar interações sociais e estabelecer novas amizades em sala de aula. Essa mudança comportamental não é um fato isolado, mas uma consequência direta da crise sanitária.
O isolamento social imposto pela pandemia trouxe consigo um aumento da demanda por atendimentos psicológicos. A própria psicóloga Costa tem notado um crescimento na procura por psicoterapia, especialmente entre o público mais jovem. Mas a situação se torna ainda mais grave quando se observa os dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP): cerca de mil jovens, entre 10 e 19 anos, cometem suicídio no Brasil anualmente.
Marina Costa destaca que, para enfrentar esse cenário, é essencial integrar temas de saúde mental ao currículo escolar. “Educar alguém sobre as formas de cuidado com a saúde mental é uma forma de prevenção”, ressalta a especialista. A conscientização é vital, principalmente ao tratarmos de depressão, doença multifatorial, como apontado pela psicóloga, que pode manifestar-se por diversas causas, sejam elas psicológicas, biológicas ou sociais.
Ainda que tenhamos avançado em termos de discussão sobre saúde mental, persiste um estigma. Muitas pessoas, mesmo reconhecendo a necessidade de cuidar de sua mente, hesitam em buscar ajuda. Segundo Costa, é comum, principalmente entre homens, haver uma resistência maior devido a construções sociais que desencorajam a exposição de vulnerabilidades.
A cidade de Natal, consciente da necessidade de atender esta demanda crescente, oferece serviços especializados em saúde mental de forma gratuita, como o Ambulatório de Prevenção e Tratamento de Tabagismo, Alcoolismo e outras drogadições (APTAD) e os Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Além disso, o Governo do RN mantém uma rede de leitos hospitalares destinados a pacientes psiquiátricos.
Confrontados com este cenário, é imperativo que a sociedade como um todo reconheça a urgência de abordar a saúde mental, não apenas como uma questão individual, mas como uma questão coletiva. A pandemia evidenciou as vulnerabilidades de nossa estrutura social e a necessidade de investir, incessantemente, no bem-estar de nossos jovens. Afinal, o futuro pertence a eles.
*Publicado originalmente na edição do AGORA RN desta quarta-feira, dia 11 de outubro de 2023.