É inegável: a pandemia impactou a saúde mental da população através da alta de fatores de risco, como desemprego, insegurança financeira e luto. Apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter declarado, em maio deste ano, o fim da emergência de saúde pública provocada pela Covid-19, efeitos indiretos continuam existindo.
Dados da própria OMS, divulgados em 2022, apontam que casos de depressão e ansiedade aumentaram 25% logo após o surgimento da Covid-19.
Cenário esse que não é diferente em Natal. A capital potiguar conta com cinco centros psicossociais especializados em saúde mental, os chamados CAPS. A reportagem do AGORA RN visitou um deles, o CAPS III Leste, localizado na Rua Mipibu, e apurou que os atendimentos aumentaram consideravelmente pós-pandemia.
Diretora da unidade, Albertina Bessa afirmou que assim que o trabalho presencial foi retomado, percebeu que houve um aumento importante de procura por atendimento. “Até porque algumas pessoas já vinham apresentando algum tipo de problema, por exemplo, tinham predisposição para desenvolver algum transtorno, esse momento da pandemia foi um gatilho”, afirmou.
De acordo com a agente administrativa Georgia Carvalho, a média mensal é de 450 atendimentos na unidade. “A procura por atendimentos de saúde mental aumentou consideravelmente depois da pandemia, até porque muitas pessoas não possuem plano de saúde, então recorrem ao SUS. Estamos abarrotados”, observou ela. Na unidade, são acolhidos usuários com transtornos graves, severos e recorrentes.
Conforme informou a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o CAPS III Leste fez 13.857 atendimentos entre janeiro e setembro deste ano, número que reflete consultas psiquiátricas, grupos operativos em saúde mental, matriciamento, acolhimento, oficinas terapêuticas, escuta individual e coletiva da psicologia.
Na unidade, trabalham cinco médicos psiquiatras, três psicólogos e dois assistentes sociais, além de um grupo de enfermeiros para os 10 leitos existentes no CAPS. O número de profissionais, no entanto, não é suficiente para atender a demanda reprimida da pandemia, conforme informações obtidas pela reportagem.
Ao todo, são cinco CAPS em Natal, divididos da seguinte forma: CAPS III Leste (atende público adulto das zonas Leste e Sul, que não faz uso de substâncias); CAPS AD Leste (atende público adulto que mora nas regiões Leste, Sul e Oeste, que faz uso de substâncias); CAPS AD Norte (atende público adulto da Zona Norte, que faz uso de substâncias); CAPS Oeste (atende público adulto das zonas Norte e Oeste, que não faz uso de substâncias), e o CAPS Infantojuvenil.
Um dos problemas que o CAPS III Leste enfrenta é a divisão territorial para atendimento. Mesmo que o acolhimento seja “porta aberta”, é necessário realizar uma triagem. “Enfrentamos o problema da divisão de territórios, pois muitos profissionais acabam indicando as pessoas para cá e nós precisamos falar para o usuário que não é aqui, justamente por causa da cobertura de bairros”, explicou a diretora Albertina Bessa.
Além dos CAPS, a gestão municipal disponibiliza atendimento no Ambulatório de Prevenção e Tratamento de Tabagismo, Alcoolismo e outras drogadições (APTAD), que fica localizado em Pirangi. Em casos de atendimento para crises de emergências psiquiátricas, o indicado é procurar a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) mais próxima.
Mudança do CAPS
O CAPS III Leste deverá mudar de endereço em breve. “A nossa casa atual, na Mipibu, é alugada. A Prefeitura do Natal adquiriu uma casa no bairro de Santos Reis e está realizando uma reforma para nos mudarmos, o que deve acontecer nos próximos meses”, disse Albertina Bessa.